A Turbulenta Época 2023/24 do FC Porto: Um Clube em Transição
Sendo um dos históricos “Três Grandes” de Portugal, o FC Porto é, desde há muito, uma força dominante no futebol nacional. No entanto, a época 2023/24 revelou-se um grande revés para o clube. Terminando a 11 pontos do campeão Sporting Lisboa e empatado em pontos com o quarto classificado Braga, a apenas duas semanas do final da temporada, o Porto teve uma campanha que ficou muito aquém das expectativas.
Um Carrossel de Técnicos Caótico
Um dos principais fatores que contribuiu para a época dececionante do Porto foi a instabilidade na posição de treinador. A saída do técnico de longa data Sérgio Conceição para o Milan marcou o início de uma transição turbulenta. Conceição, que regressou a Portugal em 2017 depois de uma breve passagem pelo FC Nantes, em França, revitalizou o Porto. Sob a sua liderança, o clube conquistou três títulos da Primeira Liga, quatro Taças de Portugal, uma Taça da Liga e três Supertaças de Portugal. Além disso, a sua gestão incluiu classificações regulares para a Liga dos Campeões da UEFA e presenças frequentes nas fases a eliminar — mais recentemente, uma derrota dramática nos penáltis para o Arsenal nos oitavos-de-final.
Com a saída de Conceição, o seu adjunto Vítor Bruno assumiu o comando do clube por um contrato de dois anos. No entanto, a sua gestão durou pouco tempo. Bruno, que trabalhou em estreita colaboração com Conceição durante anos, terá sido excluído das negociações de renovação do contrato do técnico com o ex-presidente Jorge Nuno Pinto da Costa — uma decisão que pode ter causado atritos nos bastidores. Embora Bruno tenha negado estas notícias, a sua passagem terminou após apenas 29 jogos, incluindo um desempenho decepcionante nas competições europeias e a incapacidade de acompanhar o ritmo do Sporting no campeonato.
Após a saída de Bruno, o técnico interino José Tavares comandou dois jogos sem vitórias antes de o clube nomear Martín Anselmi como o novo treinador. O argentino chegou com pouca experiência, tendo comandado o mexicano Cruz Azul, e os primeiros resultados foram dececionantes, com uma taxa de vitórias de 45% nas suas primeiras 11 partidas.
Problemas Financeiros Aprofundados
As dificuldades do Porto em campo foram acompanhadas por sérias preocupações financeiras. O clube terminou o ano fiscal de 2023/24 com um défice de 21 milhões de euros e um passivo que totaliza cerca de 520 milhões de euros. O recém-nomeado presidente do clube, André Villas-Boas — antigo treinador do Porto, Chelsea e Marselha — fez da reestruturação financeira a sua principal prioridade ao suceder a Pinto da Costa.
Para gerar capital, o Porto reviu a sua parceria com o grupo de investimento espanhol Ithaka, acordando vender parte dos direitos económicos do seu estádio num negócio no valor de 100 milhões de euros. Esta decisão, embora tenha ajudado a resolver problemas imediatos de tesouraria, reduziu a capacidade do clube de investir fortemente no plantel.
A instabilidade financeira também levou a sanções da UEFA. O Porto estava entre os 13 clubes penalizados por “contas a pagar em atraso”, resultando numa multa de 1,6 milhões de dólares e na ameaça de proibição de uma temporada das competições europeias caso os problemas financeiros se mantenham. Despedimentos dispendiosos de técnicos ao longo da época só agravaram a situação, realçando a necessidade urgente de disciplina financeira.
Oportunidades Perdidas num Cenário de Liga em Mudança
Embora a competitividade do campeonato português tenha crescido nos últimos anos — com Sporting e Benfica a elevarem os seus padrões — nenhum dos rivais esteve isento de falhas esta temporada. O Benfica desfez-se de Roger Schmidt e reintegrou Bruno Lage, que o tinha levado ao título em 2019. O Sporting, sob o comando de Ruben Amorim, sofreu uma breve quebra de rendimento antes de recuperar o ímpeto. Estas inconsistências representaram uma janela de oportunidade para um concorrente estável capitalizar.
Infelizmente, o Porto não conseguiu aproveitar esta oportunidade. Apesar de estar na disputa a meio da temporada, a falta de consistência afastou-o da luta pelo título nos meses finais.
Um Vislumbre de Esperança
Apesar da turbulência, o Porto terminou a época com uma nota positiva. Sob o comando de Anselmi, a equipa venceu cinco dos últimos seis jogos e teve uma média de quase três golos por jogo nos últimos três jogos — sugerindo que a equipa pode estar a começar a recuperar.
Além disso, o surgimento de jovens talentos promissores como Rodrigo Mora e Martim Fernandes deu aos adeptos motivos para acreditar num futuro mais promissor. Estes produtos da base podem desempenhar um papel vital numa abordagem mais sustentável e orientada para os jovens daqui para a frente.
Conclusão
A época 2023/24 do FC Porto ficou marcada por turbulências na gestão e instabilidade financeira, resultando numa das épocas menos competitivas da história recente. No entanto, com um novo presidente focado na reforma financeira, uma promissora safra de jovens jogadores e sinais de coesão tática sob o comando de Martín Anselmi, o clube pode recuperar ainda mais forte nas próximas temporadas. O caminho para a recuperação pode ser longo, mas as bases para a renovação começam a ganhar forma.