A Aprilia Racing está a explorar a possibilidade de adicionar Miguel Oliveira ao seu programa de testes de MotoGP para a próxima temporada, mas o plano do fabricante italiano depende da aprovação da BMW — futuro empregador do piloto português no Campeonato do Mundo de Superbike (WSBK). O piloto luso, que já tem acordo para integrar o projeto de fábrica da BMW em 2026, poderá desempenhar um papel duplo caso ambas as marcas cheguem a um entendimento que lhe permita testar para a Aprilia enquanto compete no Mundial de Superbikes.
Uma Ponte Entre Dois Mundos
Após perder o seu lugar em MotoGP para 2026, Miguel Oliveira decidiu continuar a competir ao mais alto nível das motos de produção ao assinar um contrato de fábrica com a BMW para o Mundial de Superbikes. A mudança fará com que alinhe ao lado do italiano Danilo Petrucci, antigo piloto de MotoGP, formando uma dupla experiente e sólida para a ofensiva da BMW rumo aos lugares cimeiros do campeonato.
Contudo, a Aprilia não desistiu completamente de manter uma ligação com o piloto português. O construtor de Noale chegou a oferecer a Oliveira um papel de test rider e de desenvolvimento dentro do seu programa de MotoGP para a próxima época, pretendendo aproveitar o seu conhecimento técnico e a sua experiência para acelerar a evolução da RS-GP. Embora o piloto tenha optado por continuar em competição a tempo inteiro, a marca italiana manteve aberta a possibilidade de colaboração — desde que a BMW dê luz verde.
Escassez de Pilotos Leva a Aprilia a Reabrir o Interesse em Oliveira
O interesse da Aprilia em voltar a contar com Miguel Oliveira no seu programa de testes não surge por acaso. A equipa tem enfrentado uma temporada de 2025 bastante complicada, marcada por lesões e ausências de pilotos, o que tem dificultado a recolha de dados consistentes e o progresso no desenvolvimento da moto.
Jorge Martín, uma das estrelas da marca, ficou afastado de grande parte da época devido a uma sequência de quedas e lesões, interrompendo o ímpeto da equipa e atrasando os planos de evolução. Como consequência, o piloto de testes e desenvolvimento Lorenzo Savadori teve de participar em vários Grandes Prémios, acumulando as funções de corrida e de teste. Paralelamente, o jovem japonês Ai Ogura também perdeu várias provas — incluindo as duas mais recentes — devido a uma lesão na mão, agravando ainda mais as dificuldades da equipa em manter uma rotina de testes eficiente.
Durante o Grande Prémio da Indonésia, o CEO da Aprilia Racing, Massimo Rivola, comentou as dificuldades enfrentadas pela equipa e a necessidade de reforçar a sua estrutura técnica.
“Preferia ter um pouco mais de sorte com as quedas”, disse Rivola à Motorsport.com. “Mas se estas são as estatísticas, talvez precisemos de mais pilotos.”
As suas palavras refletem a perceção crescente dentro da Aprilia de que os recursos humanos atuais não são suficientes para acompanhar o ritmo de desenvolvimento pretendido. A eventual inclusão de um piloto experiente como Oliveira seria, por isso, uma mais-valia importante para o programa técnico da equipa.
Negociações com a BMW: Uma Questão de Cooperação
Apesar do forte interesse da Aprilia, a situação é delicada devido ao contrato que liga Miguel Oliveira à BMW. Desde o momento em que o português assinou com a marca alemã para o projeto de 2026 no WSBK, a Aprilia ficou obrigada a obter autorização formal antes de qualquer colaboração entre as duas partes.
Rivola confirmou que a decisão depende agora essencialmente da BMW:
“Desde que ele assinou com a BMW, temos de perguntar à BMW primeiro,” explicou o dirigente. “Da nossa parte, ficaríamos contentes — veremos.”
Esta posição reflete o equilíbrio sensível entre dois fabricantes que, embora compitam em categorias distintas, continuam a ser rivais diretos na indústria motociclística. Permitir que um piloto contratado pela BMW teste um protótipo de MotoGP da Aprilia levanta inevitavelmente dúvidas sobre confidencialidade e partilha de dados, mesmo que os projetos pertençam a competições separadas.
A Perspetiva de Miguel Oliveira: Abertura com Pragmatismo
Do lado do piloto, Miguel Oliveira mostrou-se aberto à possibilidade de combinar os compromissos no Mundial de Superbikes com um papel de testes na MotoGP, desde que tudo seja coordenado com a BMW e dentro dos limites logísticos possíveis. Em declarações ao Crash.net após o GP da Indonésia, o piloto de 29 anos admitiu que a ideia é interessante, mas requer uma gestão cuidadosa.
“Para mim, é uma opção. Claro que é algo que tem de ser discutido com a BMW primeiro,” disse Oliveira. “A prioridade é competir, obviamente, mas há também a questão do calendário… A Aprilia quer tirar o máximo proveito de me ter a testar a moto… não é fácil encontrar uma agenda que funcione para todos.”
As palavras do português refletem as complexidades logísticas e contratuais de tal cenário. Os calendários de MotoGP e WSBK raramente estão alinhados e as exigências físicas e de viagem são elevadas. Qualquer tentativa de conciliar ambas as funções exigiria grande flexibilidade de todas as partes envolvidas.
Questionado se a BMW poderia encarar essa colaboração como um potencial conflito de interesses, Oliveira respondeu de forma diplomática:
“Por que não? Acho que as intenções deles no desporto motorizado são bastante claras,” afirmou, sugerindo que a BMW tem ambições amplas o suficiente para aceitar uma cooperação pragmática.
Um Rosto Familiar para a Aprilia
Caso o plano avance, Miguel Oliveira seria um reforço ideal para a equipa de testes da Aprilia. O piloto conhece bem a moto e a estrutura da marca, tendo representado a equipa RNF Racing — que mais tarde se transformou em Trackhouse Racing — nas temporadas de 2023 e 2024 de MotoGP.
Durante esse período, Oliveira destacou-se pela sua capacidade técnica e precisão no feedback aos engenheiros, sendo amplamente elogiado pela equipa pelo seu profissionalismo e compreensão profunda do comportamento da RS-GP. Essas qualidades seriam extremamente valiosas para o programa de desenvolvimento da Aprilia, especialmente nas sessões privadas e nos testes de pré-época.
Nos últimos anos, a Aprilia deu passos gigantescos e consolidou-se como uma das principais forças do MotoGP, mas ainda procura reduzir a diferença para os rivais dominantes Ducati e KTM. Contar novamente com um piloto do nível técnico e da experiência de Oliveira poderia representar um passo importante nessa direção.
Benefícios Potenciais para Ambas as Marcas
Se for alcançado um acordo, Aprilia e BMW poderiam beneficiar mutuamente. A marca italiana ganharia um piloto de MotoGP experiente para o desenvolvimento da RS-GP, enquanto a BMW teria um dos seus futuros pilotos a manter-se ativo e em contacto com uma moto de alto desempenho.
Além disso, Oliveira poderia transferir parte do seu conhecimento técnico sobre eletrónica, chassis e gestão de pneus para o projeto da BMW, fortalecendo o desenvolvimento da superbike alemã.
Do ponto de vista de imagem e marketing, a cooperação entre duas marcas de topo também seria benéfica, transmitindo uma mensagem de profissionalismo e colaboração num mundo cada vez mais interligado entre MotoGP e WSBK. A passagem de pilotos como Álvaro Bautista, Toprak Razgatlıoğlu e Danilo Petrucci entre as duas categorias demonstra que a troca de conhecimento e talento entre campeonatos é cada vez mais natural.
Decisão a Tomar Durante o Inverno
A decisão final sobre o papel duplo de Oliveira deverá ser tomada apenas no final do ano, quando a BMW definir o seu calendário de testes e corridas para 2026. Ambas as partes estariam abertas a negociações, mas qualquer acordo teria de definir claramente as obrigações, viagens e limitações contratuais do piloto para evitar conflitos.
Para a Aprilia, a prioridade continua a ser o reforço da estrutura de testes após uma época atribulada. Para Miguel Oliveira, a hipótese de manter ligação ao MotoGP enquanto inicia um novo capítulo no WSBK representa o melhor dos dois mundos — continuar a competir ao mais alto nível e, simultaneamente, permanecer próximo da categoria onde construiu a sua carreira.
Caso o plano receba o aval da BMW, Oliveira poderá tornar-se um caso raro de um piloto a dividir responsabilidades entre dois fabricantes de elite e duas competições mundiais, o que sublinharia a sua reputação técnica e a sua versatilidade.
Por agora, as duas equipas mantêm o diálogo aberto. Como resumiu Rivola:
“Da nossa parte, ficaríamos contentes. Vamos ver.”
Independentemente do desfecho, uma coisa é certa: Miguel Oliveira continua a ser uma figura altamente valorizada tanto em MotoGP como em Superbikes, e cada passo do seu percurso será acompanhado de perto por fãs e equipas em todo o mundo.