Miguel Oliveira equilibra opções para o futuro enquanto mira final forte da temporada em Misano
Com o calendário do MotoGP a aproximar-se rapidamente do Grande Prémio de San Marino e da Riviera di Rimini, em Misano, Miguel Oliveira chega a Itália com confiança pelo bom momento recente e, ao mesmo tempo, com incertezas quanto ao seu futuro a longo prazo. O piloto português, que compete este ano pela Pramac Racing com a Yamaha, conseguiu no último fim de semana, em Barcelona, a sua melhor prestação da temporada 2025. Garantiu um 10.º lugar na Sprint de sábado e seguiu com um competitivo nono posto na corrida principal de domingo, reforçando a sua determinação em encerrar o campeonato em alta.
No entanto, apesar dos progressos em pista, Oliveira enfrenta uma das decisões mais importantes da sua carreira. A escolha da Yamaha em assegurar Jack Miller ao lado de Toprak Razgatlioglu como dupla oficial a partir de 2026 encerrou, na prática, as suas esperanças de permanecer na classe rainha com a marca japonesa. Essa realidade obriga o piloto de 29 anos a avaliar várias opções fora do MotoGP, incluindo propostas da Yamaha e da BMW no Mundial de Superbikes (WSBK), além da possibilidade de assumir o papel de piloto de testes da Aprilia no MotoGP.
Falando abertamente sobre a situação, Oliveira admitiu que está próximo de chegar a uma decisão, embora ainda não esteja pronto para anunciá-la.
“Vocês já sabem desde o último fim de semana o que eu quero fazer, mas ainda não decidi,” disse Oliveira. “Não é uma escolha fácil. Felizmente, tenho várias opções em cima da mesa e só preciso de perceber qual é a melhor direção para o meu futuro. Acho que durante a próxima semana vou definir o rumo e, depois, em função de com quem tiver assinado, veremos quando será possível fazer o anúncio.”
Uma decisão para além das corridas, mas sem peso familiar
No desporto profissional, aspetos pessoais e familiares costumam influenciar a escolha de um piloto sobre onde competir. Contudo, Oliveira fez questão de afastar essa ideia no seu caso. Com uma nota bem-humorada, admitiu que o tempo passado em casa não é algo que tenha pesado na sua decisão.
“São coisas que não considerei e, na verdade, a minha mulher quer é que eu esteja fora de casa o máximo possível, porque é isso a que está habituada, e provavelmente é isso que funciona também para a nossa relação,” comentou entre risos. “Honestamente, esses não são aspetos que considero em relação ao que devo fazer a seguir. A minha prioridade era o MotoGP, que de qualquer forma me manteria afastado de casa durante muito tempo.”
Esse comentário reforça o compromisso profundo de Oliveira em competir ao mais alto nível do motociclismo, independentemente dos sacrifícios, e mostra a sua visão pragmática diante de uma escolha que pode definir o rumo da carreira.
Recuperar a forma em Barcelona
Grande parte do otimismo de Oliveira para Misano vem do passo em frente que deu no fim de semana do GP da Catalunha. Depois de várias dificuldades de consistência e confiança ao longo da época, o piloto português sentiu-se mais à vontade com a Yamaha M1 em Barcelona, algo que se refletiu nos resultados.
O diretor da Pramac, Wilco Zeelenberg, destacou que Oliveira parecia mais “solto” na moto, o que se traduziu num melhor ritmo. O próprio piloto explicou que pequenos ajustes tiveram um impacto significativo.
“Sim, estou mais confortável, física e mentalmente,” explicou Oliveira. “Acho que tudo encaixou em Balaton, onde seguimos uma direção clara com a afinação da moto. Não experimentámos nada novo, mas recuámos alguns passos em relação a onde estávamos no início de junho e, em Barcelona, tudo pareceu funcionar perfeitamente. A moto funcionou bem, como vimos com o Fabio até na qualificação, e isso permitiu-me expressar o meu estilo de pilotagem e conseguir resultados.”
O regresso a uma filosofia de afinação anterior devolveu confiança a Oliveira e sugere que a Yamaha começa a compreender melhor quais as limitações do pacote atual, informação essencial na transição para o novo motor.
O projeto Yamaha V4 – uma aposta ousada
Uma das grandes novidades do MotoGP é a decisão da Yamaha de abandonar o tradicional motor de quatro cilindros em linha e apostar numa configuração V4 a partir de 2026. Apesar de Oliveira dificilmente fazer parte desse futuro, devido às escolhas de pilotos da marca, mostrou curiosidade e interesse no potencial do projeto.
“Certamente. O meu trabalho é estar preparado para o que a Yamaha me pedir. Se for para o V4, ótimo. Se não, estarei pronto para continuar com esta moto, tentando outras coisas. Foi uma decisão muito ousada e muito interessante desde o início, e desejo-lhes sucesso,” comentou.
O piloto foi mais longe, descrevendo a mudança como um ponto de viragem para o fabricante.
“É uma aposta muito ousada. Pode correr muito bem ou razoavelmente bem, mas, dado o conhecimento técnico deles, acredito que vai correr bem. Não falo da experiência com o V4 em si, falo da capacidade técnica global. Acho que este ano deu uma ideia muito clara do que falta à moto atual. Ter quatro motos em pista com diferentes feedbacks deu-lhes uma direção muito mais clara para o futuro. Isso vai ajudá-los bastante.”
Este reconhecimento demonstra o profissionalismo de Oliveira e a sua visão do panorama mais amplo, mesmo preparando-se para um futuro provavelmente além da Yamaha.
Manter o profissionalismo até ao fim
Para qualquer piloto que sabe que vai deixar uma equipa, a motivação pode ser um desafio. Mas Oliveira fez questão de sublinhar que a sua postura não muda, mesmo sabendo que não faz parte dos planos futuros da Yamaha.
“Não muda nada. Não estou zangado com eles. É uma decisão, e vocês viram como a recebi na semana passada quando tudo se tornou público,” afirmou. “Além disso, o timing dos resultados que consegui e das minhas declarações esteve em linha com aquilo que será o meu comportamento até ao final do contrato. Antes de mais, existe uma relação, um contrato vinculativo entre as duas partes e, para mim, isso é muito importante quando se trata de fazer um trabalho.”
As palavras refletem um piloto focado em encerrar esta etapa da carreira com dignidade, profissionalismo e a mesma garra que o acompanhou desde a estreia na categoria rainha, em 2019.
Miller otimista para Misano
Enquanto grande parte das atenções recai sobre o futuro de Oliveira, o seu colega de equipa, Jack Miller, também se prepara para Misano com otimismo crescente. O australiano recuperou bem no GP da Catalunha, subindo no pelotão até terminar em 14.º lugar. Apesar de não ser o resultado mais sonante, a exibição deixou sinais positivos para a ronda italiana.
“Estou ansioso por este fim de semana em Misano. Estou feliz por estar de volta aqui e acho que podemos ser rápidos,” disse Miller. “A moto funcionou bem com o nível de aderência que encontrámos em Barcelona e estou curioso para ver o que podemos conseguir com a M1 neste fim de semana. Aqui, a aderência tem sido bastante elevada nos últimos anos e penso que a pista se adapta um pouco melhor a nós do que outras. É por isso que estou otimista.”
As suas palavras refletem um otimismo cauteloso, revelando as dificuldades que a Yamaha continua a enfrentar para lutar de forma consistente na frente, mas também a esperança de que determinados circuitos permitam explorar melhor as qualidades da moto.
O caminho que se segue para Oliveira
Enquanto se prepara para correr em Misano, as atenções estarão não apenas no desempenho de Oliveira, mas também na decisão iminente que poderá redefinir a próxima fase da sua carreira. Com opções que vão desde competir no WSBK até assumir um papel de desenvolvimento no MotoGP, o piloto português enfrenta oportunidades e riscos. Uma mudança para o WSBK poderia colocá-lo na luta por títulos, enquanto a permanência no MotoGP como piloto de testes manteria a ligação ao mais alto nível, embora num papel menos visível.
O próprio piloto resumiu com honestidade:
“Não é fácil. Só tenho de perceber em que direção seguir. O tempo em família não é um fator. A minha mulher quer-me fora de casa o máximo possível. O V4? É uma jogada ousada. Pode correr mais ou menos bem.”
Em poucas palavras, Oliveira captou o equilíbrio delicado entre ambição, oportunidade e pragmatismo que marca o ponto de viragem que agora enfrenta.
Conclusão
À medida que o paddock do MotoGP se instala em Misano para o Grande Prémio de San Marino, a história de Miguel Oliveira surge como uma das mais intrigantes do fim de semana. A sua forma recente mostra um piloto a reencontrar o ritmo, mesmo com o futuro incerto. O projeto V4 da Yamaha representa uma mudança estrutural para a marca, que Oliveira não ajudará diretamente a moldar, mas que apoiou publicamente. Enquanto isso, Jack Miller procura extrair o máximo da Yamaha em pistas onde as condições podem favorecer a moto.
Para Oliveira, contudo, o fim de semana vai além dos tempos por volta ou dos resultados. Trata-se de correr livremente, mostrar talento e preparar o anúncio de uma decisão que pode ser a mais importante da sua carreira. Seja no WSBK, como piloto de testes no MotoGP, ou noutro papel competitivo, as próximas semanas irão definir o próximo capítulo de uma trajetória construída com determinação, adaptabilidade e resiliência.