Miguel Oliveira enfrenta calor, problemas de aderência e caos num turbulento primeiro dia em Motegi
O primeiro dia do Grande Prémio do Japão, em Motegi, esteve longe de ser tranquilo para Miguel Oliveira. O piloto português, que representa a Trackhouse Racing no MotoGP, saiu das sessões de sexta-feira com um sorriso irónico, mas admitiu de forma franca que as condições estavam longe do ideal. Entre o calor intenso, uma série incomum de quedas no pelotão e uma sucessão frustrante de bandeiras amarelas que interromperam as suas voltas rápidas, Oliveira descreveu o dia como “quente, confuso e nada daquilo que queríamos.”
Com o seu humor característico, o piloto de 29 anos iniciou a conferência com uma piada sobre o calor sufocante no circuito Twin Ring Motegi. “Hoje estava escaldante”, comentou em tom bem-disposto. “Talvez mais do que aí? Vocês não sabem. Como podem saber?” Apesar da brincadeira, a mensagem era clara: as condições climatéricas e da pista acrescentaram um nível extra de dificuldade a um dia já de si exigente.
Um dia que prometeu mais do que entregou
Oliveira explicou que as primeiras voltas lhe deram algum otimismo, com a moto a transmitir boas sensações nas fases iniciais do treino. “Foi um dia difícil”, admitiu, “mas no geral tive uma boa sensação com a moto, especialmente no início da sessão.” Esse ritmo promissor, no entanto, acabou por se desmoronar quando foi altura de aumentar o andamento.
Na tentativa de atacar o cronómetro durante as voltas rápidas, Oliveira e a sua equipa depararam-se com sérios problemas de equilíbrio na aderência. “Nos time attacks estivemos muito fora no equilíbrio da aderência”, revelou. A situação foi agravada pelo azar: precisamente quando tentou tirar partido dos pneus novos, duas bandeiras amarelas foram mostradas em rápida sucessão. Ambas o obrigaram a abortar voltas, impedindo-o de registar um tempo representativo.
“Apanhei duas bandeiras amarelas com os dois pneus, por isso foi um desastre”, disse de forma direta. No MotoGP, onde a qualificação é frequentemente decidida por frações de segundo, perder duas voltas limpas com pneus novos pode fazer a diferença entre avançar diretamente para a Q2 ou ficar retido na primeira sessão. Para Oliveira, a coincidência dos incidentes fez com que o seu verdadeiro potencial não fosse visível nas tabelas de tempos.
Apesar dos contratempos, o piloto garantiu que a base da moto lhe dá confiança. “A sensação não é má. O ritmo está lá”, destacou, sugerindo que, com uma volta mais limpa e um equilíbrio melhorado, poderá ser competitivo no sábado. O foco da sua garagem será transformar esse conforto inicial em consistência quando a pressão for maior.
Uma pista imprevisível e um dia de quedas
Oliveira não foi o único a ter dificuldades em encontrar uma sessão tranquila na sexta-feira. O primeiro dia ficou marcado por uma série de quedas, muitas delas sem explicação aparente, deixando vários pilotos intrigados com o comportamento do asfalto em Motegi.
O português admitiu que também ficou surpreendido com o elevado número de incidentes. “O que aconteceu com a pista? Foi muito difícil percebermos o que se passava”, afirmou, em sintonia com a perplexidade dos seus colegas. “Tantas quedas… foi estranho.”
Apesar das temperaturas elevadas, estas não foram tão extremas como em outros eventos do calendário. No entanto, a combinação de calor na pista, borracha acumulada e as particularidades do traçado de Motegi — marcado por retas longas e fortes travagens — pareceu criar um perfil de aderência imprevisível que apanhou muitos pilotos de surpresa.
“Foi muito difícil de entender”, prosseguiu Oliveira. “Numa volta tínhamos aderência, na seguinte já não. Não havia consistência.” Para pilotos e engenheiros, essa falta de estabilidade complica as decisões de afinação e dificulta a construção da confiança necessária para atacar zonas de travagem ou inclinações mais agressivas nas curvas.
Olhar para sábado e a luta pela Q2
De olhos postos no que aí vem, Oliveira está determinado em usar as sessões de sábado para refinar a sua moto e colocar-se na luta pela Q2, a segunda fase da qualificação, crucial no MotoGP. Conseguir passagem direta para a Q2 é fundamental, pois evita a incerteza de ter de passar pela Q1 e aumenta significativamente as hipóteses de garantir uma boa posição na grelha tanto para a Sprint como para a corrida principal.
“Este sábado será sobre evitar distrações e colocar-me em posição de lutar pela Q2”, reforçou o piloto. As “distrações” a que se referiu englobam desde as bandeiras amarelas e a aderência imprevisível até ao desafio mental de manter a calma após um dia frustrante.
Com o ritmo em voltas longas a mostrar-se promissor, o objetivo para Oliveira e a Trackhouse Racing será encontrar maior estabilidade nas voltas rápidas. Se conseguirem acertar no equilíbrio da aderência e evitar interrupções, o português acredita que terá ritmo para subir na tabela.
Contexto dentro da época de Oliveira
Para Miguel Oliveira, Motegi representa mais um passo importante numa temporada marcada pela adaptação e pela resiliência. Ao juntar-se à Trackhouse Racing com o objetivo de ajudar o novo projeto a afirmar-se no MotoGP, o piloto tem mostrado momentos de competitividade, mas também passou por vários episódios de azar.
Conhecido como um dos pilotos mais inteligentes e adaptáveis da grelha, Oliveira costuma ser capaz de extrair rendimento em condições adversas. O desempenho de sexta-feira, assim, refletiu tanto as suas virtudes como as suas frustrações: sentiu-se confortável com a base da moto, mas não conseguiu traduzir isso em tempo de volta devido a fatores externos. O desafio agora passa por maximizar oportunidades sempre que a pista lhe permitir uma volta limpa.
Uma visão mais ampla: pilotos contra Motegi
As reflexões de Oliveira encaixam ainda num quadro mais amplo que surgiu na sexta-feira em Motegi. Em toda a grelha, vários pilotos levantaram preocupações sobre os níveis de aderência e a frequência das quedas. O que deveria ter sido um primeiro dia relativamente rotineiro transformou-se numa experiência caótica de gestão de riscos.
O calor não foi o único responsável. O circuito japonês, com as suas longas retas, zonas de travagem fortes e mistura de curvas rápidas e lentas, coloca exigências únicas nos pneus e nos pilotos. Pequenas variações na temperatura do asfalto ou na borracha acumulada podem mudar drasticamente o nível de aderência. Para Oliveira, o trabalho passa por antecipar essas mudanças e garantir que a afinação da moto lhe permita responder de forma eficaz.
Conclusão
O primeiro dia de Miguel Oliveira em Motegi pode não ter produzido tempos de destaque, mas, por trás dos números, o piloto português mantém uma confiança discreta. A boa sensação de base com a moto indica que há margem para desbloquear mais rendimento, desde que consiga navegar pela imprevisibilidade que marcou as sessões de sexta-feira.
Com a previsão a apontar para mais calor, o sábado será um teste crucial à capacidade de Oliveira em manter o foco, afinar a moto e, sobretudo, realizar uma volta limpa quando mais importa. Se evitar os contratempos que prejudicaram as suas tentativas na sexta-feira, o piloto da Trackhouse Racing acredita que terá as ferramentas necessárias para conquistar uma vaga direta na Q2 — passo vital para montar um desafio competitivo tanto na Sprint como na corrida de domingo.
Como o próprio resumiu: “A sensação não é má. O ritmo está lá. Agora só precisamos de juntar tudo.”