Miguel Oliveira acredita que saída de Jorge Martin da Ducati moldou supremacia de Marc Márquez na MotoGP 2025: “As coisas seriam diferentes se ele tivesse ficado”
À medida que a temporada 2025 da MotoGP avança, um nome familiar volta a dominar as manchetes e a liderança do campeonato — Marc Márquez. Após a mudança de alto perfil para a equipe Ducati Lenovo, o lendário espanhol parece ter reencontrado a forma arrebatadora que o tornou quase imbatível nos seus tempos de Repsol Honda. Com seis vitórias em Grandes Prêmios e nove triunfos em corridas Sprint em apenas dez rodadas, Márquez se consolidou como o homem a ser batido neste ano, aparentemente caminhando com tranquilidade rumo ao que poderá ser o seu histórico nono título mundial.
Sua liderança no campeonato é expressiva — 68 pontos de vantagem — uma margem que só tem aumentado com o passar das corridas. Tal domínio é raramente visto em um esporte conhecido por suas margens mínimas, e o que torna o desempenho de Márquez ainda mais impressionante é o fato de ele estar se destacando dentro de uma equipe já repleta de talentos e expectativas elevadas. A Ducati vive uma era dourada como fabricante — sua máquina, em especial o modelo GP25, provou ser a mais completa e competitiva do grid. Mas mesmo em meio a um plantel de pilotos de elite, Márquez se impôs como o líder absoluto.
Curiosamente, essa dinâmica atual — com Márquez reinando tanto dentro da Ducati quanto no campeonato — talvez não existisse se a trajetória de outro piloto de ponta tivesse seguido um rumo diferente. O português Miguel Oliveira, agora competindo pela Pramac Yamaha, ofereceu uma perspectiva intrigante sobre esse cenário durante uma recente participação no canal Moto.IT no YouTube. Oliveira sugeriu que toda a configuração do campeonato poderia ter sido radicalmente diferente caso Jorge Martin tivesse decidido permanecer no projeto da Ducati.
“Marc está em uma situação ideal, porque o único que realmente coloca pressão nele é o irmão,” disse Oliveira. “Ele está numa posição ótima neste momento, correndo sem pressão de verdade.”
A observação de Oliveira toca no cerne do que torna a dominância de Márquez tão impressionante nesta temporada. Seu maior concorrente direto não vem de dentro do grupo de elite da Ducati, mas sim do próprio irmão, Álex Márquez, o que coloca Marc em uma posição relativamente confortável — livre para focar totalmente em sua performance, sem enfrentar as tensões internas ou dinâmicas políticas que frequentemente afetam os pilotos das equipes de fábrica.
No entanto, Oliveira acredita que, se Jorge Martin tivesse permanecido na Ducati — em vez de partir para a Aprilia — a história poderia ter sido bem diferente. Martin, que conquistou o título mundial da MotoGP em 2024, era considerado a próxima grande promessa da Ducati. Mas após ser preterido em favor de Márquez para a vaga na equipe de fábrica, o espanhol optou por deixar o projeto de Borgo Panigale completamente, assinando com a Aprilia para 2025. Infelizmente para o então campeão mundial, sua temporada de estreia com a marca italiana tem sido marcada por lesões, afastando-o da briga pelas primeiras posições.
Na visão de Oliveira, essa decisão não apenas mudou o rumo da carreira de Martin, mas também abriu caminho direto para a ascensão incontestada de Márquez dentro da Ducati.
“Vamos dizer que, na minha opinião, se o Jorge Martin tivesse ficado na Ducati, as coisas seriam diferentes,” afirmou o piloto português. “É assim que eu vejo.”
Há fundamentos na análise de Oliveira. As máquinas da Ducati não são apenas rápidas — são dominantes. Mesmo desconsiderando as contribuições individuais de Márquez — que soma oito pódios na temporada — o fabricante italiano ainda lidera o pelotão em termos de sucesso geral. De fato, a Ducati acumula 17 pódios a mais do que o segundo melhor fabricante, um dado que evidencia tanto o desempenho da moto quanto a eficiência do seu programa de desenvolvimento de pilotos.
Contudo, mesmo com acesso ao mesmo equipamento, poucos têm conseguido ameaçar Márquez. Um exemplo claro é Francesco Bagnaia, bicampeão mundial em 2022 e 2023. Antes estrela maior da Ducati, Bagnaia agora se vê ofuscado dentro da própria equipe. A chegada de Márquez virou a hierarquia interna de cabeça para baixo, e os efeitos psicológicos disso já começam a se manifestar.
Oliveira reconheceu o peso mental de ser constantemente superado pelo próprio companheiro de equipe — especialmente quando ambos contam com o mesmo suporte e recursos.
“É muito difícil ver o seu companheiro de equipe te vencer todo fim de semana, não é?” comentou Oliveira. “Nós sabemos que temos os mesmos recursos. Isso pesa muito psicologicamente, mesmo que eu ache que o Pecco [Bagnaia] seja alguém que mantém muito o foco em si mesmo.”
A declaração chama atenção para um aspecto frequentemente negligenciado das corridas em alto nível: o fator psicológico. Rivalidades internas podem ser particularmente destrutivas, e mesmo que Bagnaia aparente serenidade e concentração, a pressão interna de estar constantemente em segundo plano pode ser um fardo até para os pilotos mais experientes. Essa situação remete a exemplos históricos da MotoGP, em que dois grandes talentos dividiram o mesmo box, mas não conseguiram coexistir harmonicamente.
Ironicamente, a saída de Jorge Martin da Ducati não só abriu espaço para Márquez como também provocou um efeito dominó no paddock. Com a vaga de Martin na Pramac aberta, Miguel Oliveira foi contratado para a equipe. No entanto, ao contrário de seus antecessores na Pramac, Oliveira agora pilota uma Yamaha — uma moto que, embora esteja evoluindo, ainda está atrás da Ducati em termos de desenvolvimento tecnológico. Isso coloca o português em uma posição complicada, competindo contra as poderosas Desmosedici sem dispor do mesmo arsenal técnico.
Ainda assim, Oliveira mantém firme sua convicção de que, se Martin tivesse permanecido na Ducati, a pressão sobre Márquez seria consideravelmente maior e a luta pelo título em 2025 poderia ter seguido um rumo totalmente diferente. Embora os modelos GP24 e GP25 — utilizados neste ano — sejam relativamente próximos em termos de performance, é o fator humano que Oliveira acredita estar fazendo a diferença no momento.
“A superioridade do Marc parece inalcançável neste momento,” ele admitiu. “Mas se o Jorge Martin tivesse permanecido na Ducati, eu realmente acho que a história seria diferente.”
Essa especulação adiciona uma camada extra de interesse a uma temporada que já está sendo bastante movimentada. Ela convida fãs e analistas a refletirem sobre como uma única decisão pode alterar o equilíbrio de forças dentro do esporte. Jorge Martin, que um dia foi tratado como joia da coroa da Ducati, hoje observa à distância enquanto o homem que ocupou seu lugar domina com a mesma máquina que ele já teve em mãos.
Enquanto isso, Marc Márquez continua a atuar com confiança suprema e precisão cirúrgica. Ele não está apenas guiando a melhor moto do grid; está fazendo isso sem enfrentar atritos internos ou ameaças iminentes — uma vantagem quase sem precedentes na MotoGP moderna.
Assim, conforme a temporada 2025 avança, o caminho de Márquez rumo à glória segue surpreendentemente desimpedido. Com rivais lesionados, companheiros de equipe superados e concorrentes diretos fora de forma, tudo parece conspirar para que o espanhol recupere a coroa que não veste desde 2019. Resta saber se alguém conseguirá frear seu ímpeto.
Mas uma coisa está cada vez mais clara: em 2025, Marc Márquez não está apenas vencendo — está dominando. E como Miguel Oliveira observou com precisão, uma única decisão de Jorge Martin no ano passado pode ter sido o fator-chave que tornou tudo isso possível.