Miguel Oliveira Reflete Sobre a Sua Jornada no MotoGP e Prepara-se para um Novo Capítulo com a BMW no WorldSBK
O piloto português Miguel Oliveira entrou oficialmente numa nova fase da sua carreira profissional. Após seis temporadas a competir na categoria rainha do motociclismo, o piloto de 30 anos confirmou a sua saída do MotoGP no final da temporada de 2025 para se juntar à equipa ROKiT BMW Motorrad WorldSBK Team em 2026. A mudança marca um ponto de viragem significativo para Oliveira, que passou quase 15 anos no paddock do Mundial de Velocidade, conquistando vitórias nas três categorias — Moto3, Moto2 e MotoGP.
Esta transição surge num momento de reflexão para o piloto português, que tem falado abertamente em entrevistas recentes sobre os altos, os desafios e as oportunidades perdidas ao longo da sua carreira no MotoGP. Embora orgulhoso das suas conquistas, Oliveira admite que o “timing” e as circunstâncias nem sempre jogaram a seu favor, limitando o que poderia ter sido uma trajetória ainda mais bem-sucedida na categoria principal. Ainda assim, a sua decisão de ingressar na BMW, no campeonato de motos derivadas de produção — o FIM Superbike World Championship (WorldSBK) — demonstra que a sua paixão pela competição permanece intacta.
Uma Mudança Estratégica: Do MotoGP para o WorldSBK
Após meses de especulação sobre o seu futuro, Oliveira confirmou que fará a mudança para o WorldSBK em 2026. O anúncio surgiu depois de longas conversações com vários fabricantes, incluindo Yamaha e Aprilia, mas foi a proposta da BMW que se revelou a mais convincente.
Em entrevista ao Crash.net, o piloto explicou a sua decisão:
“Também me foi oferecida a oportunidade de ser piloto de testes, mas o fator decisivo para mim foi o desejo de competir. Esse fogo ainda está muito aceso, e a única forma de o manter era no Mundial de Superbike. Por isso, procurei as melhores ferramentas competitivas — equipa e moto — e a BMW pareceu-me a opção certa.”
As suas palavras revelam uma mentalidade claramente competitiva — a de um piloto que ainda vive para o desafio das corridas. Enquanto muitos veteranos do MotoGP optam por papéis de desenvolvimento ou teste ao chegarem a esta fase da carreira, Oliveira escolheu continuar a lutar em pista. A sua insistência em permanecer ativo, em vez de se afastar das grelhas de partida, demonstra tanto autoconfiança como uma forte fome de sucesso.
Embora tecnicamente distinta do MotoGP — por se basear em motos de produção —, a WorldSBK tem atraído cada vez mais atenção de pilotos em busca de renascimento competitivo. A mudança de Oliveira coloca-o ao lado de outros nomes de peso que conseguiram reinventar as suas carreiras na série. Para a BMW, a sua chegada representa um verdadeiro trunfo, adicionando prestígio e um piloto com comprovado historial de vitórias ao seu projeto.
Deixar a Porta Aberta ao MotoGP
Apesar de ter assinado um contrato de um ano com a BMW para 2026, Oliveira deixou claro que a sua mudança para o WorldSBK não significa um adeus definitivo ao MotoGP. Segundo o próprio, a modalidade continuará sempre a fazer parte da sua identidade — e, embora não tenha planos imediatos de regresso, mantém a porta aberta caso as circunstâncias se alinhem.
“Assinei por um ano com a BMW, e não digo que o objetivo final seja voltar. Mas, com certeza, deixo a porta aberta, porque o MotoGP tem sido a minha vida nos últimos 15 anos de carreira,” declarou Oliveira ao Crash.net.
“Não digo que o meu objetivo seja regressar, mas nunca se sabe o que o futuro pode trazer, se as coisas correrem bem no Superbike.”
As suas palavras sugerem que esta mudança é tanto uma forma de rejuvenescimento como de reinvenção. O ritmo competitivo do WorldSBK oferece-lhe um novo desafio, mas é evidente que continua a manter laços emocionais e profissionais com o MotoGP.
Rumores apontam até para uma possível função paralela como piloto de testes da Aprilia Racing em 2026, o que lhe permitiria continuar ligado ao paddock do MotoGP enquanto compete com a BMW. No entanto, uma função dupla desse tipo dependeria de autorizações contratuais entre as duas marcas.
Se esse cenário se concretizar, Oliveira ficaria numa posição única — a de ligação entre dois dos campeonatos mais prestigiados do motociclismo mundial — enquanto contribuiria para o desenvolvimento contínuo da Aprilia. A possibilidade demonstra a sua versatilidade e o respeito que conquistou dentro da indústria.
Uma Carreira de Triunfos e Desafios
À medida que se prepara para deixar o MotoGP, Oliveira tem falado com honestidade sobre o seu percurso — um período marcado por momentos de brilho, vitórias marcantes e também frustrações. Com cinco triunfos na categoria rainha, o português faz parte de um grupo restrito de pilotos que venceram nas três categorias do Mundial. No entanto, como ele próprio admite, a sua história no MotoGP deixa um leve sabor a “poderia ter sido diferente”.
“Tenho muito orgulho, claro. Até deixarmos as botas, não há muito tempo para pensar no que já fizemos. Poucos pilotos de MotoGP podem dizer que ganharam corridas. Eu ganhei em Moto3, Moto2 e MotoGP. Por isso, tenho orgulho nisso.”
Contudo, o piloto também reconheceu que o seu percurso nem sempre foi fácil:
“Acho que o momento em que entrei em certos projetos talvez não tenha sido o ideal. E também, uns cinco por cento de sorte não estiveram do meu lado desde que cheguei ao MotoGP, em 2019, até agora.”
Essa combinação de azar e timings infelizes limitou a sua capacidade de lutar consistentemente pelos lugares da frente. Depois de se destacar com a KTM, conseguindo vitórias memoráveis para a marca austríaca, a sua mudança para a RNF Aprilia Team parecia promissora. No entanto, uma série de lesões, problemas mecânicos e falta de evolução da equipa acabaram por dificultar a obtenção de resultados expressivos.
Mesmo assim, Oliveira garante que não se arrepende das escolhas feitas ao longo do caminho:
“Tenho orgulho na forma como me comportei no paddock. Fiz amizades com muita gente e deixei sempre um impacto positivo em quem me conheceu.”
Essa postura profissional e íntegra valeu-lhe respeito generalizado, tanto entre rivais como entre dirigentes e equipas com quem trabalhou.
A Escolha da BMW em Detrimento de Yamaha e Aprilia
A decisão de Oliveira de assinar com a BMW não foi tomada de ânimo leve. Nos últimos meses, tanto Yamaha como Aprilia demonstraram interesse em contar com o piloto português, mas este acabou por optar pelo que descreveu como o projeto “mais competitivo e ambicioso” disponível.
Em entrevista ao Paddock-GP, explicou:
“A Yamaha tentou atrair-me… mas não vi o mesmo potencial neles que vi na BMW em termos de performance. É uma aposta um pouco às cegas — vemos as coisas na televisão, mas não sabemos o que realmente sentimos na moto. No entanto, é uma máquina que ganha corridas; prova que pode ser competitiva.”
A sua escolha reflete uma abordagem racional e estratégica, baseada não no prestígio da marca, mas no potencial competitivo real. O crescimento recente da BMW no WorldSBK — evidenciado por vitórias e pódios consistentes — transformou a equipa num verdadeiro candidato ao título.
“Não se trata de prestígio; trata-se de potencial,” enfatizou Oliveira. “Quis alinhar-me com um fabricante que está a ultrapassar limites, a investir seriamente e a dar aos pilotos a oportunidade de lutar por resultados de topo.”
Olhando em Frente: As Últimas Corridas no MotoGP
Antes da sua mudança para o WorldSBK, Oliveira permanece totalmente comprometido em terminar a temporada de 2025 do MotoGP da melhor forma com a RNF Aprilia. Com apenas algumas provas restantes — incluindo o Grande Prémio da Austrália —, o português procura obter resultados consistentes que sirvam como despedida digna da categoria rainha.
Partindo da 5.ª linha (P15) na grelha para a corrida principal em Phillip Island, beneficiando de penalizações a outros pilotos, Oliveira reconhece que um pódio poderá ser difícil, mas o foco está em aproveitar cada oportunidade e desfrutar dos últimos momentos de uma jornada que definiu grande parte da sua vida.
Para os fãs, estas últimas corridas são uma oportunidade para celebrar um piloto cujo talento técnico, inteligência em pista e perseverança o tornaram uma das figuras mais respeitadas do desporto.
O Legado de um Piloto com a Chama Ainda Acesa
A decisão de continuar a competir, em vez de recuar, revela uma mentalidade típica dos verdadeiros apaixonados pela velocidade. A transição para o WorldSBK não é um recuo, mas sim uma continuação da sua busca incessante pela performance e pela superação pessoal. Poucos pilotos demonstraram a capacidade de adaptação necessária para vencer em várias classes — e agora, em diferentes disciplinas do motociclismo.
Com a BMW, Oliveira leva experiência, humildade e determinação — ingredientes que poderão torná-lo uma figura de destaque no campeonato de Superbikes. O formato do WorldSBK, com corridas mais próximas e maior ênfase na habilidade do piloto em detrimento da aerodinâmica, pode mesmo favorecer o seu estilo suave e analítico.
Por agora, contudo, o português divide a sua atenção entre terminar bem o MotoGP e preparar-se para os desafios do Superbike. A sua abertura a um eventual papel de testes com a Aprilia sublinha a sua versatilidade e relevância contínua no mundo das corridas.
“Trata-se de manter-me ligado ao que amo,” resumiu Oliveira. “Ainda tenho a paixão por correr, por competir e por aprender. Seja no MotoGP, no Superbike ou noutro papel, quero continuar a evoluir e a fazer parte deste desporto.”
Conclusão
A história de Miguel Oliveira sempre foi marcada por resiliência e excelência silenciosa. Desde os primeiros dias no Moto3 até tornar-se o primeiro português a vencer no MotoGP, o piloto de Almada tem desafiado as expectativas a cada passo.
A sua próxima etapa no WorldSBK não é um fim, mas uma evolução natural — o novo capítulo de uma carreira construída sobre determinação, inteligência e adaptabilidade.
Em 2026, Oliveira vestirá as cores da BMW e enfrentará novos rivais, circuitos e desafios. Seja como candidato ao título ou como elo entre os mundos do MotoGP e do Superbike, uma coisa é certa:
o espírito competitivo de Miguel Oliveira continua vivo — e a sua jornada está longe de terminar.