Miguel Oliveira reflete sobre a sua trajetória no MotoGP enquanto se prepara para a mudança para o Mundial de Superbike
Miguel Oliveira abriu o coração sobre a sua passagem pelo MotoGP enquanto se prepara para iniciar um novo capítulo no Campeonato do Mundo de Superbike (WSBK) com a BMW na próxima temporada. O piloto português, que passou sete anos a competir na categoria rainha, afirma sentir-se “orgulhoso” do que conquistou, mas admite que “o timing de certos projetos” nos quais esteve envolvido “não foi o ideal”.
Oliveira, que atualmente corre pela Pramac Yamaha, estreou-se no MotoGP em 2019, após uma trajetória de grande sucesso nas categorias inferiores. Antes de chegar à classe principal, o piloto português construiu uma reputação como um dos jovens mais promissores do desporto, conquistando várias vitórias tanto no Moto3 como no Moto2, e terminando como vice-campeão mundial de Moto2 em 2018. A sua promoção ao MotoGP com a equipa Tech3 KTM foi vista como o passo natural na sua ascensão.
Uma jornada por equipas e desafios
Desde que entrou no MotoGP, Oliveira representou várias equipas e diferentes fabricantes, demonstrando a sua adaptabilidade e profissionalismo em ambientes diversos. Depois da sua estreia com a Tech3 KTM, o piloto português ganhou uma promoção para a equipa oficial da KTM em 2021, onde realizou algumas das melhores atuações da sua carreira. Ao longo das suas sete temporadas no campeonato, Oliveira conquistou cinco vitórias em Grandes Prémios — um feito notável que o coloca entre o seleto grupo de pilotos que triunfaram nas três categorias do Mundial: Moto3, Moto2 e MotoGP.
No entanto, apesar dos pontos altos, a jornada de Oliveira pelo MotoGP também foi marcada por frustrações e infortúnios. Após a sua última vitória com a KTM, em 2022, o português enfrentou uma série de contratempos que travaram o seu progresso. As passagens subsequentes por equipas-satélite da Aprilia — primeiro com a RNF Racing e depois com a Trackhouse — foram afetadas por lesões e limitações técnicas das motos. A mudança para a Pramac Yamaha em 2024 pretendia ser um recomeço, mas acabou por não trazer os resultados esperados, em grande parte devido a uma combinação de lesões, falta de consistência e às dificuldades da Yamaha em igualar o desempenho dos seus rivais europeus.
Reflexão sobre altos e baixos
Em declarações ao programa Gear Up da MotoGP na Indonésia, Oliveira refletiu de forma franca sobre a sua carreira e sobre o que aprendeu ao competir na arena mais exigente do motociclismo. O piloto de 29 anos reconheceu que, embora se sinta profundamente orgulhoso do seu percurso, não pode deixar de pensar que as circunstâncias e o timing nem sempre estiveram do seu lado.
“Tenho muito orgulho, claro, porque até pendurarmos o capacete não há muito tempo para olhar para trás e ver o que fizemos”, afirmou Oliveira. “Mas é verdade que no MotoGP esse momento de reflexão chegou um pouco mais cedo. Tenho orgulho, claro. Tenho orgulho por ter conseguido vencer corridas.”
O piloto português fez questão de destacar a raridade do feito de conquistar vitórias nas três classes do Mundial, algo alcançado apenas por um número muito reduzido de pilotos na história do desporto.
“Nem todos os pilotos do MotoGP podem dizer que ganharam corridas. Eu ganhei no Moto3, no Moto2 e no MotoGP. Por isso, tenho orgulho nisso”, acrescentou. “Mas também sinto que não fiz tanto quanto queria. Acho que o momento em que entrei em certos projetos talvez não tenha sido o ideal. E também, digamos, cinco por cento de sorte não estiveram do meu lado desde que entrei no MotoGP em 2019 até agora.”
Orgulho para além dos resultados
Apesar dos obstáculos, Oliveira garante que a sua experiência no MotoGP foi enriquecedora, tanto a nível profissional como pessoal. Conhecido no paddock pela sua postura calma, profissionalismo e ética de trabalho exemplar, o piloto acredita que deixa para trás mais do que resultados — deixa uma reputação de respeito e integridade.
“Tenho orgulho na forma como me conduzi no paddock e nas equipas”, afirmou. “Fiz amizades com muitas pessoas e sempre procurei ter um impacto positivo em todos os que me conheceram.”
Esse sentido de orgulho e autoconsciência reflete a maturidade que Oliveira demonstrou ao longo da sua carreira. Embora os resultados nem sempre tenham correspondido às suas ambições, a sua atitude conquistou o respeito de fãs, membros de equipa e adversários.
Um novo capítulo à vista
O próximo passo de Oliveira será trocar as máquinas protótipo do MotoGP pelas motos de produção do Campeonato do Mundo de Superbike. O piloto português assinou com a equipa oficial da BMW para a temporada de 2026, substituindo o atual campeão Toprak Razgatlioglu, que, ironicamente, acabou por lhe tirar o lugar na Pramac Yamaha. A mudança representa um novo desafio e uma oportunidade para Oliveira voltar a afirmar-se como protagonista no panorama mundial do motociclismo.
O interesse da BMW em contratar Oliveira sublinha a sua reputação como piloto talentoso e inteligente, capaz de adaptar o seu estilo a diferentes motos. O fabricante alemão, que tem investido fortemente no seu programa de Superbikes, vê na experiência do português — acumulada em múltiplos projetos no MotoGP — um trunfo importante na busca por consistência e sucesso.
Curiosamente, a ligação de Oliveira ao MotoGP pode não terminar por completo. Há rumores de que o piloto poderá continuar a colaborar com a Aprilia como piloto de testes, ajudando a marca italiana no desenvolvimento do protótipo RS-GP. Contudo, essa colaboração dependerá da autorização da BMW, que precisará garantir que tais atividades não interfiram com os compromissos do piloto no WSBK.
O legado de um competidor determinado
À medida que se prepara para encerrar o capítulo do MotoGP, as reflexões de Oliveira revelam gratidão e humildade. A sua trajetória — desde jovem promessa do programa Red Bull KTM até vencedor em várias classes — é uma prova do seu talento e perseverança. Mesmo perante lesões, transições complicadas entre equipas e períodos de má sorte, o piloto português manteve sempre a postura e o profissionalismo.
Embora não tenha alcançado a luta pelo título mundial que muitos esperavam no início da sua carreira, o seu currículo — com cinco vitórias no MotoGP, vários pódios e conquistas em todas as categorias — garante-lhe um lugar entre os maiores nomes do motociclismo português.
A mudança para o Mundial de Superbike oferece-lhe uma nova plataforma para demonstrar o seu valor e, talvez, reencontrar a consistência que lhe escapou na dinâmica imprevisível do MotoGP.
Como o próprio afirmou, o MotoGP foi uma experiência desafiante, mas também recompensadora — uma fase que o moldou não apenas como piloto, mas como pessoa. E, quando Miguel Oliveira vestir as cores da BMW em 2026, o paddock que deixa para trás recordá-lo-á como um competidor que deu sempre o seu melhor, independentemente das circunstâncias, e que soube manter a dignidade nas batalhas mais intensas do desporto.