Miguel Oliveira conquista melhor resultado da temporada 2025 após duro golpe da Pramac, mas encara futuro incerto
O Grande Prémio da Catalunha trouxe emoções contrastantes para Miguel Oliveira, que alcançou a sua melhor prestação da temporada 2025 apenas dias depois de saber que não estará presente na grelha da categoria rainha no próximo ano. O piloto português terminou em nono lugar, somando pontos importantes para a Yamaha e sendo o segundo mais rápido da marca, atrás apenas de Fabio Quartararo.
O resultado representou um passo em frente numa época marcada por dificuldades, na qual o piloto de 30 anos tem sido afetado por lesões e falta de consistência. Apesar de a exibição em Barcelona ter demonstrado progresso e determinação, a grande narrativa do fim de semana foi a confirmação de que não continuará na Pramac Yamaha em 2026.
Perda da Vaga: Miller fica com a última oportunidade na Pramac
No início da semana que antecedeu a corrida, foi oficialmente anunciado que Jack Miller assegurou o segundo e último lugar disponível na Pramac para a temporada 2026. A chegada do australiano significa que Oliveira, que estava fortemente associado à continuidade na MotoGP através da Pramac, ficará sem equipa pela primeira vez desde a sua estreia na categoria em 2019.
A decisão fechou uma porta crucial para o português e criou um dos episódios mais duros do ano. A Pramac analisava a última vaga entre Miller e Oliveira, mas acabou por escolher a experiência do australiano, que aceitou um contrato financeiramente inferior para garantir a permanência, privilegiando a competitividade e a oportunidade de se manter ligado a um projeto satélite com suporte de fábrica.
Para Oliveira, isto significa que a carreira na MotoGP entra em pausa — ou, potencialmente, chega ao fim. Com a LCR Honda prestes a anunciar o substituto de Somkiat Chantra, todas as restantes vagas parecem preenchidas, deixando o português sem caminho para regressar em 2026.
Revolta dos Adeptos: Críticas à Yamaha
A notícia gerou grande indignação entre os adeptos de MotoGP. Nas redes sociais, multiplicaram-se críticas à Yamaha por aquilo que muitos consideraram um “golpe baixo”, defendendo que Oliveira merecia mais lealdade e oportunidades, sobretudo depois do seu compromisso com o projeto, mesmo perante as dificuldades atuais da marca.
Muitos fãs ficaram surpreendidos por um piloto com o currículo de Oliveira — cinco vitórias na categoria rainha e capacidade comprovada de tirar bons resultados de motos menos competitivas — poder ficar fora da grelha, enquanto nomes menos estabelecidos continuam. Também foi destacado o profissionalismo e a adaptabilidade do português, qualidades que poderiam ter sido valiosas na transição da Yamaha para o tão aguardado motor V4 em 2026.
Infelizmente, Oliveira não estará presente para beneficiar dessa nova fase, já que a sua saída acontece precisamente no momento em que a Yamaha inicia uma remodelação técnica com o objetivo de recuperar terreno face a Ducati, Aprilia e KTM.
A Temporada de Oliveira: Das lesões à recuperação gradual
A campanha de 2025 de Oliveira tem sido marcada pela resiliência. Um forte acidente no início do ano deixou-o fora de ação durante quatro corridas consecutivas, comprometendo a sua evolução e obrigando-o a recuperar ritmo na classificação. A certa altura, chegou a ser o piloto a tempo inteiro mais mal posicionado da grelha, apenas à frente do estreante Somkiat Chantra.
O GP da Catalunha, nesse contexto, teve sabor de afirmação. O nono lugar pode não impressionar à primeira vista, mas para Oliveira representou progresso — sobretudo considerando as limitações do atual motor de quatro cilindros em linha da Yamaha. Também reforçou a sua capacidade de reagir perante a adversidade, algo que já demonstrou várias vezes ao longo da carreira.
Análise de Especialista: Gavin Emmett comenta o futuro de Oliveira
Durante a transmissão do GP da Catalunha na TNT Sports, o jornalista Gavin Emmett abordou a situação de Oliveira.
“Ouvi dizer que a Yamaha ainda quer mantê-lo dentro da família”, revelou. “Há conversas de que poderá ir para o Mundial de Superbikes, possivelmente como substituto de Jonathan Rea, que vai retirar-se. Ao mesmo tempo, também ouvi rumores de interesse da Aprilia, que poderá querer contar com a sua experiência em 2026.”
Este comentário confirma que Oliveira continua a ser visto como um ativo valioso pelas marcas, mesmo que a sua passagem pela MotoGP esteja a chegar ao fim. A sua capacidade de adaptação, feedback técnico e desempenho sob pressão são qualidades apreciadas em qualquer disciplina de motociclismo.
Por que a Pramac escolheu Miller em vez de Oliveira
A decisão de apostar em Miller não foi apenas emocional, mas estratégica. O australiano soma 11 temporadas na MotoGP, com passagens pela Honda, Ducati, KTM e agora Yamaha. Essa vasta experiência em diferentes filosofias de moto foi um fator decisivo para a Pramac.
A versatilidade e conhecimento de Miller tornam-no um candidato ideal para apoiar o desenvolvimento do novo motor V4 da Yamaha. Apesar do respeito pelo talento técnico de Oliveira, este conta com quatro temporadas a menos de experiência e não teve a mesma diversidade de máquinas. Aos olhos da Pramac, Miller representa a opção mais “completa”.
Além disso, a sua disposição para aceitar um contrato menos lucrativo mostrou determinação em permanecer competitivo, alinhando-se com as ambições da Pramac de ser uma equipa satélite de topo, capaz de lutar por pódios e apoiar o programa oficial da Yamaha.
O que vem a seguir para Oliveira?
Para o português, as opções são limitadas, mas não inexistentes. A hipótese mais realista é uma mudança para o Mundial de Superbikes com a Yamaha, assumindo o lugar de Jonathan Rea, que deverá retirar-se no final de 2025.
No entanto, o regresso à MotoGP a partir do WSBK é pouco provável. A história mostra que poucos pilotos conseguiram voltar com sucesso após a mudança. Aos 30 anos, Oliveira encontra-se numa encruzilhada, e a próxima decisão pode definir o seu legado.
Ainda assim, não se pode descartar a possibilidade de assumir um papel de piloto de testes ou wildcard. Muitas marcas mantêm pilotos experientes para programas de desenvolvimento, e a boa relação de Oliveira com a Yamaha pode abrir-lhe portas para continuar ligado à MotoGP, mesmo sem presença constante na grelha.
Uma Carreira em Perspetiva
Desde a estreia na MotoGP em 2019 com a Tech3 KTM, Miguel Oliveira sempre foi reconhecido como um dos pilotos mais inteligentes e metódicos do pelotão. A vitória no GP da Estíria em 2020, seguida pelos triunfos em Portugal e Catalunha, consolidaram a sua reputação como especialista em aproveitar oportunidades e dominar condições complicadas.
Apesar desses momentos altos, a consistência foi o seu maior desafio. Lesões e mudanças de equipa — da KTM à Aprilia e, mais recentemente, à Pramac Yamaha — impediram-no de encontrar estabilidade. A sua carreira ficou marcada por lampejos de genialidade, mas sem continuidade na luta pelo título.
Ainda assim, o seu profissionalismo e popularidade entre os adeptos nunca foram questionados. A onda de descontentamento com a sua saída da grelha em 2026 é prova do respeito que conquistou dentro da comunidade da MotoGP.
O Futuro da Yamaha e a Era do V4
Enquanto Oliveira vê o seu tempo na MotoGP chegar ao fim, a Yamaha prepara-se para uma nova era técnica. A marca vai abandonar o tradicional motor de quatro cilindros em linha em favor de um V4 já a partir de 2026. A mudança deverá aproximá-la de Ducati e KTM, que dominaram a era moderna com este tipo de motor.
A decisão da Pramac de apostar em Miller foi fortemente influenciada por este contexto. A experiência e adaptabilidade do australiano são vistas como vitais para ajudar a Yamaha nesta reinvenção. Infelizmente para Oliveira, tornou-se a vítima colateral dessa estratégia.
Conclusão: Um fim de semana agridoce
Para Miguel Oliveira, o GP da Catalunha foi um misto de satisfação e frustração. Por um lado, mostrou que ainda tem velocidade, determinação e talento para lutar dentro do top 10, mesmo em condições adversas. Por outro, o resultado foi ofuscado pela confirmação de que o seu futuro na MotoGP terminou — pelo menos por agora.
Seja através do Mundial de Superbikes, de um papel como piloto de testes ou, quem sabe, de um regresso inesperado em 2027 com a chegada das novas regras da MotoGP, Oliveira continua a ser uma figura respeitada, cuja trajetória inspira e emociona os fãs. Para já, porém, o nono lugar na Catalunha serve tanto de lembrete do seu talento como de símbolo da perda que a categoria sofrerá com a sua ausência a partir do final de 2025.