Miguel Oliveira prepara-se para uma despedida emocionante: Grande Prémio de Portugal marca a última aparição em casa no MotoGP antes da mudança para o WorldSBK
À medida que o mundo do MotoGP se prepara para o Grande Prémio de Portugal de 2025, no Autódromo Internacional do Algarve, o fim de semana ganha um significado especial para um piloto em particular. Para Miguel Oliveira, o mais bem-sucedido e consagrado motociclista português, esta etapa representará muito mais do que apenas mais uma corrida no calendário do campeonato. Será a última vez que o piloto compete diante do seu público em MotoGP, antes de dar início a uma nova etapa na sua carreira, ingressando no FIM Superbike World Championship (WorldSBK) em 2026, com a equipa ROKiT BMW Motorrad WorldSBK Team.
Esta despedida simbólica será ao mesmo tempo uma celebração da jornada de Oliveira e um momento de transição — o encerramento de um capítulo notável na sua carreira no MotoGP, que ajudou a colocar o motociclismo português no mapa mundial, e o início de uma nova era ao abraçar um novo desafio no campeonato de motos de produção.
De Almada ao Mundo: a ascensão de Miguel Oliveira
Nascido em Almada, nos arredores de Lisboa, Miguel Oliveira construiu o seu caminho até ao MotoGP com base na persistência, no talento e num profundo orgulho nacional. Os seus primeiros anos nas competições foram marcados por um crescimento rápido através das categorias de formação, demonstrando desde cedo uma notável capacidade de precisão, adaptação e inteligência em pista.
A estreia no Campeonato do Mundo aconteceu em 2011, na categoria de 125cc, que viria mais tarde a tornar-se Moto3. Nas temporadas seguintes, Oliveira afirmou-se como um dos jovens mais promissores do paddock, conquistando várias vitórias e lutando pelo título de Moto3 em 2015, ano em que terminou como vice-campeão. A sua habilidade em extrair o máximo rendimento de motos competitivamente desafiantes chamou rapidamente a atenção das equipas de fábrica.
Em 2016, subiu à categoria de Moto2, mantendo um crescimento consistente. Em 2017 e 2018, ao serviço da equipa Red Bull KTM Ajo, tornou-se presença constante no pódio, acumulando vitórias e discutindo o campeonato até ao final. Estes resultados abriram-lhe as portas da categoria rainha, onde fez a sua aguardada estreia no MotoGP em 2019, com a Tech3 KTM Factory Racing Team.
A fazer história no MotoGP
O impacto de Oliveira no MotoGP foi imediato e histórico. Em agosto de 2020, no Grande Prémio da Estíria, conquistou a sua primeira vitória na categoria rainha — não apenas um triunfo pessoal, mas também um marco para o desporto português, ao tornar-se o primeiro piloto luso a vencer uma corrida no MotoGP. A sua ultrapassagem decisiva sobre Pol Espargaró e Jack Miller na última curva foi amplamente elogiada como um exemplo de frieza e oportunismo em pista.
Mais tarde, nesse mesmo ano, Miguel alcançou o sonho máximo: vencer o Grande Prémio de Portugal, em Portimão, partindo da pole position e dominando a corrida de início a fim. Foi um momento inesquecível tanto para o piloto como para o país, com os adeptos portugueses a celebrarem a vitória do seu herói em solo nacional — um feito que ecoou muito além dos limites do circuito.
Ao longo da sua carreira no MotoGP, Oliveira somou cinco vitórias e quatro pódios adicionais, representando as cores da KTM e, mais recentemente, da Aprilia. A sua combinação de técnica apurada, inteligência tática e determinação inabalável conquistou o respeito de adversários, engenheiros e adeptos. Mesmo enfrentando lesões e a feroz competitividade do atual pelotão do MotoGP, manteve sempre uma presença constante e combativa.
O caminho para um novo desafio: a mudança para a BMW e o WorldSBK
Em meados de 2025, Miguel Oliveira e a BMW Motorrad Motorsport anunciaram oficialmente que o piloto português se juntará à equipa ROKiT BMW Motorrad WorldSBK Team a partir da temporada de 2026. O anúncio foi recebido com entusiasmo e curiosidade, marcando uma nova direção tanto para o piloto como para o fabricante alemão.
A transição de Oliveira representa uma das mudanças mais significativas dos últimos anos no motociclismo. As crescentes ambições da BMW no WorldSBK alinham-se com o desejo do português de enfrentar novos desafios e reencontrar níveis mais elevados de competitividade. O projeto verá Oliveira partilhar a garagem com o também ex-piloto de MotoGP Danilo Petrucci, formando uma dupla de grande experiência.
Falando sobre a decisão, Oliveira foi transparente quanto às suas motivações:
“O fator decisivo foi o desejo de continuar a competir — de me desafiar a mim próprio e explorar novas possibilidades dentro do motociclismo. O MotoGP foi a minha vida durante 15 anos, e levarei sempre essas memórias comigo. Mas acredito que este é o momento certo para começar algo novo, para levar a minha experiência a outro campeonato e ajudar uma marca como a BMW a atingir o topo.”
Apesar de o seu futuro passar agora pelo WorldSBK, o respeito e a gratidão de Oliveira pelo MotoGP permanecem intactos. O piloto não descarta a possibilidade de colaborar futuramente em papéis de desenvolvimento ou testes, deixando aberta a porta a futuras ligações com o paddock onde construiu a sua reputação.
O peso emocional de uma despedida em casa
O próximo Grande Prémio de Portugal terá, portanto, um peso emocional imenso — não apenas para Oliveira, mas também para os milhares de adeptos que o acompanharam ao longo da sua carreira. Para o piloto de 30 anos, será a última corrida em casa no MotoGP, uma oportunidade para se despedir do campeonato e dos fãs que o apoiaram desde o início.
O circuito de Portimão, com o seu traçado ondulante e curvas técnicas, sempre teve um significado especial para Miguel. Foi lá que viveu alguns dos seus momentos mais marcantes — incluindo a vitória dominante de 2020, com mais de três segundos de vantagem, e várias exibições competitivas nas edições seguintes.
Este ano, espera-se uma atmosfera elétrica, com as bancadas repletas de bandeiras e faixas portuguesas. Para muitos, Oliveira é mais do que um piloto — é um símbolo nacional de perseverança e excelência. O facto de ter chegado ao MotoGP e vencido, vindo de um país sem grande tradição motociclística, é a prova viva da sua determinação e do apoio de todos os que acreditaram no seu sonho.
Objetivos e foco competitivo para o fim de semana
Apesar do tom emotivo, Miguel mantém-se fiel ao seu espírito competitivo. O piloto sublinhou que pretende oferecer uma boa exibição como forma de agradecer aos adeptos.
Embora o projeto Trackhouse Aprilia tenha enfrentado desafios de desenvolvimento em 2025, Oliveira mostrou repetidamente a sua capacidade de extrair o máximo potencial da moto e lutar no pelotão intermédio. Uma boa qualificação e um resultado dentro do top 10 em Portimão seriam um desfecho digno para a sua última corrida de MotoGP em casa.
“Claro que esta corrida será especial”, confessou. “É emocionante, mas quero abordá-la como sempre: com foco, profissionalismo e o objetivo de dar o meu melhor. Os fãs merecem um grande fim de semana, e farei tudo para oferecer isso.”
Além da competição, o piloto participará em diversos eventos de fãs e compromissos mediáticos durante o fim de semana, celebrando a sua carreira e o vínculo com a comunidade portuguesa do motociclismo.
Um legado que inspira novas gerações
Mais do que números e troféus, o verdadeiro legado de Miguel Oliveira reside no caminho que abriu para as gerações futuras de pilotos portugueses. O seu sucesso inspirou um interesse crescente pelo motociclismo em Portugal, motivando investimentos em programas de formação e competições regionais.
O Miguel Oliveira Fan Club e a Oliveira Cup, um campeonato júnior que o próprio piloto ajudou a criar, são exemplos concretos do seu compromisso com o desenvolvimento do desporto nacional. Estas iniciativas oferecem oportunidades para jovens talentos ganharem experiência e sonharem com um futuro nas competições internacionais.
Graças a este trabalho, a influência de Oliveira vai muito além das pistas. Ele transformou a perceção do motociclismo português, mostrando que o talento e a disciplina podem superar barreiras geográficas e financeiras.
Olhando para o futuro: a aventura no WorldSBK
À medida que se prepara para ingressar no WorldSBK, as expectativas são elevadas. O seu currículo no MotoGP, aliado à constante evolução da BMW M1000RR, coloca-o como uma das grandes atrações da grelha de 2026. A mudança também o reencontrará com várias figuras conhecidas do seu passado no MotoGP, criando um ambiente competitivo e familiar.
O campeonato de Superbikes trará novos desafios — motos diferentes, pneus distintos e formatos de corrida variados —, testando novamente a sua capacidade de adaptação. A experiência de Oliveira na análise técnica e no trabalho de desenvolvimento será um trunfo importante para o projeto da BMW.
O Diretor da BMW Motorsport, Marc Bongers, destacou a chegada do português como um passo crucial:
“O Miguel traz uma enorme experiência e uma ética de trabalho excecional. Já provou ser vencedor ao mais alto nível, e estamos confiantes de que a sua contribuição será fundamental para alcançarmos o nosso objetivo de lutar consistentemente por vitórias no WorldSBK.”
O fim de uma era e o início de outra
Quando as luzes se apagarem em Portimão, Miguel Oliveira correrá com um misto de nostalgia e propósito. Cada curva, cada travagem e cada aplauso das bancadas recordarão a extraordinária trajetória que ele e o motociclismo português percorreram juntos.
Desde as batalhas em Moto3 até às vitórias históricas no MotoGP, a carreira de Oliveira tem sido marcada pela resiliência e pelo orgulho nacional. O Grande Prémio de Portugal será, assim, uma despedida simbólica — não um adeus às corridas, mas o início de um novo desafio onde o seu talento e determinação continuarão a brilhar.
Para os fãs, será um momento agridoce: a última oportunidade de ver o seu herói competir em casa na elite do motociclismo, mas também o prenúncio de novas conquistas que ainda estão por vir.
À medida que encerra este capítulo notável, o sentimento no paddock é unânime — gratidão, admiração e respeito por um piloto que levou o nome de Portugal ao mais alto nível e que continua a personificar o verdadeiro espírito da competição.


