Miguel Oliveira reflete sobre o Sprint caótico no Japão: boa qualificação arruinada pelo drama na largada e pelas dificuldades de tração
As esperanças de Miguel Oliveira para um Sprint produtivo no Japão, em Motegi, rapidamente se desfizeram nos primeiros segundos das 12 voltas da corrida curta, quando o piloto português foi apanhado tanto por uma largada lenta quanto pelo acidente dramático de Jorge Martin logo à sua frente. Apesar de ter chegado ao Sprint animado por uma qualificação competitiva, que o colocara em posição de atacar os pilotos da frente, Oliveira foi obrigado a entrar em modo de contenção de danos quase de imediato, transformando aquilo que poderia ter sido uma oportunidade de marcar pontos numa corrida de sobrevivência e recolha de dados.
Sinais encorajadores na qualificação
O fim de semana de Oliveira mostrava-se promissor antes do Sprint. O piloto da CryptoDATA RNF Yamaha conseguiu uma das suas melhores qualificações da temporada, demonstrando velocidade e consistência no traçado de travagens fortes e acelerações do Twin Ring Motegi. Apesar de ter falhado por pouco o acesso à Q2, a diferença para os primeiros da grelha foi mínima, deixando-lhe uma dose real de otimismo para a corrida de sábado à tarde.
“A qualificação foi boa em termos de tempos por volta”, explicou Oliveira. “Claro que a posição não ajudou, mas senti que fiz o máximo com a moto, mesmo sem me sentir a 100% nela. Duas décimas fora da Q2, quatro décimas para o Fabio [Quartararo], meio segundo da pole – estava tudo muito apertado.”
Os números mostravam bem quão curtas eram as margens. Estar a duas décimas de um lugar na Q2 evidenciava tanto a competitividade do MotoGP quanto o progresso de Oliveira na adaptação à Yamaha M1. Com apenas meio segundo a separá-lo da pole position, ficava claro que o seu ritmo de volta única estava mais próximo do nível de referência do que os resultados poderiam indicar à primeira vista.
Para Oliveira e para a Yamaha, foi um raro ponto positivo numa temporada difícil. O tempo forte de qualificação oferecia a base para lutar no grupo do meio do pelotão e, com uma boa largada, talvez até disputar os lugares de pontuação.
Pesadelo na largada e corrida de sobrevivência
No entanto, todo esse potencial evaporou assim que as luzes se apagaram. Oliveira arrancou mal, perdendo posições de imediato quando o pelotão se lançou para as primeiras curvas. Pior ainda, a sua situação agravou-se quando Jorge Martin caiu mesmo à sua frente, obrigando o português a desviar-se.
“A largada foi muito má”, admitiu Oliveira com franqueza. “Tive a imagem da queda do Martin logo à minha frente. Tentei evitá-lo, fui largo, quase para a gravilha, e fiquei em último. A partir daí, a motivação não estava a 100%, mas tentei recolher dados para amanhã.”
A sequência acabou por eliminar qualquer hipótese de recuperar e lutar de forma significativa no Sprint. Depois de ser forçado a sair da trajetória ideal e de quase ir parar à escapatória, Oliveira encontrou-se no fundo da classificação, restando-lhe apenas a consolação de completar voltas e recolher informações para o Grande Prémio de domingo.
Avaliação do acidente de Martin
O incidente com Jorge Martin tornou-se tema de conversa no paddock. O piloto da Pramac Ducati, conhecido pelas suas largadas agressivas e estilo combativo, perdeu o controlo na travagem e caiu logo no início da corrida. Oliveira, que tinha a melhor visão das consequências imediatas do acidente, foi direto na análise.
“Ele foi extremamente otimista pelo lado direito”, afirmou Oliveira. “A moto já estava instável quando ele travou pela primeira vez, e teve de corrigir. Felizmente só levou um piloto com ele, porque podia ter sido muito pior.”
Embora Oliveira tenha evitado o contacto direto, o momento sublinhou os riscos constantes dos Sprints do MotoGP, em que os pilotos estão muito próximos e qualquer erro pode causar um efeito em cadeia. Para o português, o mais importante foi ter-se mantido de pé, mesmo que isso significasse sacrificar as suas ambições de resultado.
Problemas de tração ensombram desempenho
Para além do drama inicial, Oliveira fez questão de destacar o problema técnico persistente que tem prejudicado a Yamaha – a falta de tração na saída das curvas mais lentas.
“Não temos tração nas saídas de curva”, admitiu o piloto, ecoando as frustrações já repetidas pelos pilotos da Yamaha ao longo da temporada. “Assim que paramos a moto e temos de arrancar de velocidades muito baixas – como nas curvas 10, 9 e 5 – começamos logo a patinar. Mesmo com a moto direita e com o dispositivo acionado, há muito ‘spin’, e não conseguimos controlar.”
Esta crónica falta de tração não só o impede de acelerar bem, como também o obriga a lutar fisicamente com a moto em vez de explorar o seu potencial. Em Motegi, onde as zonas de travagem forte desembocam em pontos cruciais de aceleração, a fraqueza é ainda mais evidente. Para pilotos como Oliveira, a incapacidade de obter tração adequada compromete a velocidade em reta, as hipóteses de ultrapassagem e a durabilidade dos pneus – uma combinação que deixa pouco espaço para otimismo.
As dificuldades de tração evidenciam também o desafio mais amplo que a Yamaha enfrenta no seu ciclo de desenvolvimento. Enquanto marcas como Ducati e KTM continuam a ganhar terreno na aceleração e estabilidade traseira, a Yamaha parece constantemente em desvantagem, com os pilotos obrigados a compensar. Os comentários de Oliveira reforçaram essa realidade no Japão.
De olho no domingo
Apesar dos contratempos, Oliveira e a sua equipa não perderam de vista o quadro geral. Com o Sprint praticamente perdido, o foco virou-se de imediato para o Grande Prémio de domingo. O português sugeriu que a escolha de pneus e alguns ajustes de afinação poderiam trazer melhorias marginais, mesmo que as limitações fundamentais se mantenham.
“Amanhã vai ser ainda pior com o médio, mas provavelmente teremos mais estabilidade e isso pode ajudar durante a corrida”, observou. “Vai ser muito difícil.”
O pneu traseiro médio, embora ofereça menos tração absoluta, poderá dar-lhe um comportamento mais previsível ao longo da corrida, sobretudo em termos de estabilidade na aceleração. Essa estabilidade, espera Oliveira, poderá reduzir o patinar e permitir-lhe manter um ritmo mais constante nas 24 voltas.
Para a Yamaha, a prioridade passa por extrair o máximo de dados possíveis nestes fins de semana difíceis. Mesmo que os resultados continuem modestos, cada informação sobre afinações, uso de pneus e ajustes aerodinâmicos pode alimentar futuras melhorias. Oliveira, pragmático como sempre, mostra-se disposto a assumir esse papel de desenvolvimento.
Uma época de aprendizagem e paciência
O Sprint no Japão acabou por ser um microcosmo da época de 2025 de Oliveira: lampejos de competitividade anulados por fatores fora do seu controlo imediato, desde azares na largada até limitações estruturais da Yamaha M1. No entanto, as suas reflexões mostram um piloto que equilibra frustração com realismo, entendendo que cada fim de semana traz não só desafios mas também oportunidades de progresso.
Embora o resultado tenha sido dececionante, a abordagem ponderada de Oliveira evidencia a sua resiliência. Mantém-se comprometido em tirar o máximo de cada corrida, sabendo que o atual pacote da Yamaha exige paciência e persistência. Com Motegi a expor as debilidades na tração, o fim de semana deixou claro onde é necessário trabalhar – informação que poderá ser vital para as próximas corridas.
Entretanto, Oliveira continua a demonstrar profissionalismo perante a adversidade. A sua capacidade de separar a frustração dos resultados do processo de desenvolvimento a longo prazo talvez seja o seu maior trunfo numa temporada em que os avanços ainda são escassos.
Conclusão
Miguel Oliveira entrou no Sprint do Japão com razões para estar otimista após uma qualificação forte que o deixou a meio segundo da pole. Mas uma largada lenta e a queda de Jorge Martin à sua frente rapidamente transformaram a corrida numa luta pela sobrevivência em vez de pontos. Embora tenha pouco para mostrar em termos de resultado, o português obteve informações valiosas sobre os problemas de tração da Yamaha – uma limitação que continua a marcar a temporada de 2025.
Olhando para o futuro, Oliveira sabe que o Grande Prémio do Japão será mais um grande desafio, sobretudo pela gestão de pneus e pelas dificuldades de aceleração. Ainda assim, mantém-se determinado em aprender, adaptar-se e extrair cada possível ganho, mesmo perante as limitações mais amplas da Yamaha.
Para Oliveira e a sua equipa, Motegi não foi sobre perseguir a glória, mas sim sobre enfrentar duras realidades, recolher dados e preparar terreno para o futuro. Foi mais uma lembrança de que, no MotoGP, o progresso nem sempre vem dos pódios, mas sim da perseverança nos momentos mais difíceis.