No Estádio MetLife, Culturas do Futebol se Misturam — e Sugerem um Futuro Promissor para o Mundial de Clubes Expandido da FIFA
EAST RUTHERFORD, N.J. — Os estacionamentos e corredores ao redor do Estádio MetLife se transformaram em uma vibrante mistura da cultura do futebol global antes da primeira partida sediada em Nova York do recém-expandido Mundial de Clubes da FIFA, agora com 32 equipes. Uma das cenas mais inusitadas — mas estranhamente apropriadas — foi a de uma caminhonete apelidada de “máquina do Siuuuu”, coberta com a bandeira de Portugal e carregando uma estátua realista e imponente de Cristiano Ronaldo. O escultor Sergio Furnari, seu criador, disse que o tributo foi feito para que a geração mais jovem admire Ronaldo como um ícone atemporal: “Ele é o super-homem da vida”, declarou com seriedade.
Em outro contexto, isso talvez parecesse estranho. Mas ali, com torcedores de diversos continentes reunidos horas antes do jogo, tudo fazia sentido. Risadas, fotos e energia festiva fluíam livremente.
Torcedores confiantes e uma torcida desequilibrada
Entre os torcedores que chegavam, estavam quatro otimistas palmeirenses, que viajaram do Brasil. A visão deles sobre a fase de grupos do torneio era positiva — o Palmeiras era visto como favorito contra o Inter Miami e o gigante egípcio Al Ahly. A confiança era grande até mesmo para vencer o Porto, de Portugal, clube que atualmente passa por dificuldades no campeonato local.
Embora alguns previssem uma divisão de torcedores de 70% a 30% entre Palmeiras e Porto, o cenário era ainda mais desequilibrado: quase todos ao redor do estádio vestiam verde. Ainda assim, os torcedores dos dois clubes se misturaram pacificamente, frequentemente brincando e até imitando a comemoração característica de Ronaldo.
A partida em si — uma das nove a serem disputadas no MetLife, incluindo as duas semifinais e a final no dia 13 de julho — foi quase secundária diante da troca cultural que se desenrolava do lado de fora.
Um festival sem churrasco
A restrição da FIFA ao tailgating (festas nos estacionamentos) em muitos estádios dos EUA, incluindo o MetLife, eliminou um ritual familiar aos torcedores sul-americanos: churrascos e festas regadas a cerveja antes dos jogos. Os palmeirenses improvisaram. Muitos se dirigiram ao American Dream Mall, localizado nas proximidades, mais por necessidade do que por planejamento, devido aos desafios de estacionamento do estádio.
O que começou como um gotejar de camisas verdes logo se transformou em um verdadeiro “esquenta”. No final da tarde, os torcedores haviam convertido um corredor estéril do shopping em um desfile festivo de bandeiras, cantos e batucadas. Um homem mascarado assumiu o “palco improvisado”, e a festa explodiu — clientes confusos do shopping se dispersaram, mas os palmeirenses transformaram o espaço em uma nova espécie de “churrasco”, só que sem carne nem bebida.
Dentro do estádio: verde e branco dominam
Já dentro do MetLife, os palmeirenses não perderam o ritmo. Seus cantos, apitos e bandeiras preencheram um quarto do anel inferior do estádio. A torcida criou uma atmosfera vibrante, reminiscente do Allianz Parque, em São Paulo. O técnico Abel Ferreira comentou depois: “Foi como jogar em casa.”
Enquanto isso, a torcida do Porto — embora pequena — estava animada e orgulhosa. O clube, que passa por um momento instável e está atrás na tabela do campeonato português, tenta reacender sua base de torcedores nos Estados Unidos. Paul Silva, da torcida Porto New Jersey, disse que o esforço continua apesar das dificuldades. Os torcedores presentes estavam em alto astral, mesmo em minoria.
O jogo: energia, mas sem gols
Em campo, ambos os times mostraram qualidade, mas não conseguiram marcar. O Palmeiras começou forte, em grande parte graças ao jovem Estevão, que encantou com dribles inteligentes e já está vendido ao Chelsea para depois do torneio. O atacante Samu, do Porto, foi um problema físico constante para os defensores, atraindo a marcação e mostrando por que está chamando atenção de clubes maiores da Europa.
Ambos os lados chegaram perto — o Palmeiras com sua posse de bola elaborada, o Porto nas bolas paradas —, mas os goleiros Claudio Ramos (Porto) e Weverton (Palmeiras) fizeram defesas importantes para manter o 0 a 0. As substituições diminuíram o ritmo da partida, e o brilho ofensivo se apagou. A saída de Estevão, por volta dos 65 minutos, marcou uma queda clara no ímpeto palmeirense.
“Mostramos nossa qualidade e tentamos impor nosso estilo”, disse Estevão após o jogo. “Mas precisamos melhorar.”
Apesar da falta de gols, nenhum dos lados se mostrou desanimado. Com confrontos teoricamente favoráveis pela frente, ambos ainda têm boas chances de avançar para a fase eliminatória.
Momentos estranhos e perguntas no ar
O evento teve seus momentos peculiares. Uma contagem regressiva com voz estilo Super Bowl anunciou o início do jogo, árbitros foram bizarra e solenemente homenageados com guarda de jogadores, e o intervalo contou com uma “câmera de dança” que confundiu mais do que animou. Esses toques teatrais destoaram das tradições de muitos dos torcedores presentes.
Há também a questão da escala. Embora os 46.275 torcedores presentes representem um bom número, a capacidade de 90.000 do MetLife fez com que o público parecesse pequeno. Alguns se perguntaram se a partida não teria sido melhor no Red Bull Arena, com seus 25.000 lugares — onde o clima poderia ter sido mais intenso. “Talvez pudessem ter fechado o anel superior”, sugeriu Ferreira.
Um começo promissor, mas incompleto
Apesar das esquisitices, o dia mostrou que a edição americana do Mundial de Clubes tem potencial real. A torcida trouxe paixão. As culturas de torcedores — brasileira, portuguesa e americana — se misturaram com respeito e alegria.
O jogo pode não ter empolgado, mas o evento em si, sim. Se o torneio será um sucesso duradouro dependerá da qualidade dos jogos nas próximas semanas. Mas, por ora, a atmosfera — com estátuas homenageando ídolos, invasões de shopping e cantos poliglotas — sugere que a versão americana do futebol global pode, sim, funcionar.
Como disse um torcedor palmeirense: “A gente acredita que vai ganhar os próximos jogos. Depois, tá nas mãos de Deus.”