Miguel Oliveira prestes a deixar o MotoGP para o Mundial de Superbike: Mudança para a BMW deve substituir Razgatlioglu
Os ventos da mudança parecem soprar com força na carreira de Miguel Oliveira. Aos 30 anos, o piloto português está à beira de uma transformação dramática — uma que poderá marcar o fim da sua jornada no MotoGP e o início de um novo capítulo no Campeonato Mundial de Superbike (WSBK). Segundo diversos relatos, Oliveira já teria alcançado um acordo verbal com a BMW para competir na categoria de motos derivadas de produção em 2026, assumindo o lugar do atual campeão mundial de Superbike, Toprak Razgatlioglu. A confirmação oficial é considerada iminente, com a assinatura final prevista antes da próxima ronda do MotoGP em MotorLand Aragón.
Uma troca de destinos: Oliveira e Razgatlioglu trocam de caminhos
Há uma certa ironia nesta história que se desenrola. Enquanto Razgatlioglu se prepara para deixar a BMW e assumir o lugar de Oliveira na Pramac Yamaha no MotoGP, o português, por sua vez, tomará o comando da BMW M 1000 RR campeã mundial do piloto turco no Mundial de Superbike. É, portanto, um verdadeiro “intercâmbio” entre dois pilotos em busca de renovação e de novos desafios competitivos.
Para Oliveira, esta mudança representa simultaneamente um recomeço e um salto no desconhecido. Apesar do sucesso recente alcançado sob a batuta de Razgatlioglu, o projeto Superbike da BMW enfrenta incertezas além de 2026. O fabricante alemão apenas confirmou o seu compromisso com o campeonato até ao final dessa temporada, e mesmo internamente existem dúvidas sobre a viabilidade de longo prazo do programa. Ainda assim, neste momento, a oportunidade de integrar uma estrutura campeã é difícil de recusar.
Um contrato de um ano, uma nova aventura
O acordo, que deverá ter duração inicial de um ano, colocará Oliveira como colega de Danilo Petrucci na equipa de fábrica da BMW no Mundial de Superbike. Petrucci, também ele um ex-piloto do MotoGP, encontrou nova vida no WSBK e poderá tornar-se um aliado crucial para Oliveira durante a sua adaptação a um ambiente competitivo totalmente diferente.
A adaptação do português ao paddock das Superbikes será observada de perto. Conhecido pela sua precisão e excelente capacidade de feedback técnico, o estilo de pilotagem de Oliveira pode ajustar-se bem à natureza mais física e mecânica das motos de Superbike, em contraste com a sofisticação eletrónica das máquinas do MotoGP. No entanto, a transição não será simples — a passagem de protótipos para modelos de produção tem-se revelado historicamente um desafio complexo, mesmo para pilotos de elite.
Do MotoGP ao Superbike: uma decisão moldada pelas circunstâncias
Por trás desta decisão, existe uma realidade dura: as opções de Oliveira dentro do MotoGP esgotaram-se. Apesar de ser amplamente respeitado no paddock — vencedor de cinco Grandes Prémios na categoria rainha e o primeiro português a triunfar no MotoGP — o mercado de pilotos para 2025 deixou-o sem um lugar competitivo.
A Pramac Ducati, que chegou a ser considerada uma potencial salvação, acabou por escolher Jack Miller, fechando assim a última porta realista para Oliveira permanecer na grelha do MotoGP. Nem mesmo as tentativas de garantir um cargo de piloto de testes tiveram êxito. A Aprilia, fabricante com a qual compete através da Trackhouse Racing, optou por outras soluções, enquanto a Honda manteve-se indecisa, explorando múltiplas possibilidades de testes sem apresentar uma proposta concreta.
No fim, a proposta da BMW surgiu como a única oportunidade tangível para o português continuar a competir ao mais alto nível. Embora a mudança represente uma alteração profunda de percurso, ela também lhe dá a possibilidade de voltar a lutar por vitórias e, quem sabe, por um título mundial — algo que se tornara cada vez mais distante nas suas últimas temporadas de MotoGP.
A aposta calculada da BMW
Do ponto de vista da BMW, a contratação de Oliveira representa ambição e pragmatismo. A perda de Toprak Razgatlioglu — o piloto que finalmente trouxe consistência e capacidade de disputar o título — foi um golpe duro. Ao garantir os serviços de Oliveira, a marca alemã procura manter o ímpeto competitivo e incorporar um piloto de calibre MotoGP capaz de elevar o desenvolvimento da M 1000 RR.
Outros nomes chegaram a ser considerados para a cobiçada vaga. Entre eles estava Pol Espargaró, outro veterano do MotoGP que manifestou interesse em explorar o universo Superbike. No entanto, Espargaró decidiu permanecer ligado ao ecossistema KTM, atuando como piloto de testes, participante em wildcards e comentador na DAZN. Essa escolha abriu caminho para que a BMW finalizasse as negociações com Oliveira, que, segundo fontes, já visitou as instalações da equipa e se reuniu com a gestão de topo para discutir os objetivos do projeto.
As palavras de Oliveira: “Em breve decidirei o meu futuro”
Durante o recente Grande Prémio de Misano, Oliveira reconheceu que decisões importantes sobre o seu futuro estavam por ser tomadas, embora tenha evitado confirmar diretamente a mudança para a BMW. As suas declarações, contudo, deixaram transparecer a imagem de um homem preparado para virar a página.
“Não estou zangado com a Yamaha”, afirmou o português quando questionado sobre o mercado de transferências e a falta de opções no MotoGP. “Em breve decidirei o meu futuro.”
O seu tom soou mais resignado do que frustrado, refletindo uma compreensão clara da realidade atual: a grelha do MotoGP está cada vez mais saturada, dominada pelas equipas-satélite da Ducati e com cada vez menos vagas nas estruturas de fábrica. Mesmo pilotos talentosos e comprovados enfrentam dificuldades para garantir estabilidade.
Um risco alto, mas com potencial de grande recompensa
Se o acordo com a BMW for oficialmente confirmado, o rumo da carreira de Oliveira poderá tomar dois caminhos opostos. Por um lado, ele juntarse-á à equipa campeã mundial — uma estrutura que, sob o comando de Toprak, demonstrou finalmente capacidade para desafiar o domínio da Ducati nas Superbikes. Por outro, a incerteza da continuidade da BMW após 2026 levanta dúvidas sobre o futuro a médio prazo, podendo deixar o português sem assento competitivo num espaço de 18 meses, caso as prioridades corporativas mudem.
Ainda assim, a mudança oferece a Oliveira algo que o MotoGP já não podia garantir: a oportunidade de lutar pelas primeiras posições. No Mundial de Superbike, ele terá à disposição uma moto vencedora, experiência e competência técnica para ser competitivo de imediato — à semelhança do que aconteceu com Álvaro Bautista, cuja transição do MotoGP para o WSBK em 2019 resultou num sucesso imediato.
Uma segunda carreira, uma rivalidade familiar
Caso a mudança se concretize, Oliveira reencontrará rostos familiares. O seu futuro companheiro de equipa, Danilo Petrucci, foi um dos seus rivais mais próximos durante várias temporadas no MotoGP. Além disso, com Razgatlioglu a rumar ao MotoGP, os caminhos de ambos permanecerão entrelaçados — um a perseguir a glória nos protótipos, o outro a abraçar o desafio das Superbikes.
De certa forma, a possível transferência de Oliveira para a BMW reflete as transformações modernas do motociclismo, onde as fronteiras entre o MotoGP e o Mundial de Superbike se tornaram cada vez mais fluidas. Hoje, a passagem entre as duas categorias já não é vista como uma descida de nível, mas sim como uma reinvenção estratégica de carreira.
Olhando para o futuro
À medida que Miguel Oliveira se aproxima da assinatura oficial com a BMW, o mundo do motociclismo aguarda com expectativa a confirmação de uma das transferências mais significativas dos últimos anos entre MotoGP e Superbike. Para o piloto português, a decisão representa o fim de uma notável trajetória no MotoGP e o início de uma ousada nova aventura — uma que poderá reacender a sua carreira ou encerrar um capítulo marcante da mesma.
Se esta nova etapa no Superbike se tornar um trampolim para o sucesso ou um desvio incerto, só o tempo dirá. Mas, para Miguel Oliveira, um piloto admirado pela sua inteligência, humildade e perseverança, esta mudança reafirma uma verdade intemporal do desporto motorizado: por vezes, os maiores riscos trazem as recompensas mais significativas.


