Brad Binder manifesta apoio a Miguel Oliveira: “Quando este cara está em fogo, ele é insano”
Brad Binder saiu em defesa do seu ex-companheiro de equipa na KTM, Miguel Oliveira, insistindo que o piloto português continua a ser “demasiado rápido para não estar no MotoGP”, numa altura em que paira a incerteza sobre o seu futuro nas corridas. Binder, que partilhou várias etapas da sua carreira ao lado de Oliveira, tanto nas classes de formação como já na categoria rainha com a KTM, expressou tristeza perante a perspetiva de ver o seu colega de longa data afastado do campeonato.
Oliveira, vencedor comprovado em Grandes Prémios, enfrenta um dos momentos mais difíceis da sua carreira. Depois de confirmado que perderá o lugar na Pramac Yamaha no final de 2025, o piloto de 29 anos encontra-se numa encruzilhada que pode mesmo levá-lo a abandonar o paddock do Mundial de Velocidade. A possibilidade mais realista de manter ligação ao MotoGP parece ser através de um papel como piloto de testes e eventuais wild cards com a Aprilia, embora cada vez mais surjam rumores de uma mudança para o Campeonato do Mundo de Superbike, onde tanto a Yamaha como a BMW estarão interessadas em oferecer-lhe lugares de fábrica.
Apoio de Binder a um piloto “especial”
Em declarações aos meios de comunicação, Binder foi inequívoco no apoio a Oliveira, descrevendo-o como um dos pilotos mais talentosos com quem já partilhou uma garagem.
“Já tive o Miguel como colega de equipa durante muitos anos e, quando este cara está em fogo, ele é insano. Nos seus dias bons, ele é incrível”, afirmou Binder. “Por isso, é realmente triste ver a situação em que ele se encontra neste momento.
“Mas honestamente, sinto que com certeza vai aparecer alguma coisa para ele. Ele é demasiado rápido para não estar aqui, sem dúvida. Então espero mesmo que encontre uma oportunidade, que recupere a confiança e as boas sensações que já teve no passado, porque tenho a certeza de que os resultados estão ao virar da esquina.”
As palavras de Binder ganham ainda mais peso devido à longa história que ambos partilham. Os dois foram colegas nas categorias de Moto3 e Moto2, antes de voltarem a cruzar caminhos no MotoGP. Em 2021 e 2022, formaram a dupla oficial da KTM na categoria rainha, com Oliveira a destacar-se pela sua capacidade de vencer em condições adversas, consolidando-se como um dos pilotos mais eficazes com a RC16.
O legado de Oliveira na KTM
Embora Binder tenha entretanto assumido o papel de principal referência da KTM, Oliveira continua a ser o piloto mais bem-sucedido da marca em termos de vitórias na categoria rainha. Entre 2020 e 2022, conquistou cinco triunfos em MotoGP, incluindo as primeiras — e até agora únicas — vitórias da Tech3 na categoria principal. Os sucessos em pistas como Portimão e Barcelona evidenciaram a sua capacidade de aproveitar oportunidades, especialmente em condições meteorológicas variáveis ou sob forte pressão.
No entanto, após decidir deixar a KTM no final de 2022, Oliveira juntou-se ao projeto satélite RNF/Trackhouse Aprilia. As duas épocas com a RS-GP foram marcadas por altos e baixos, condicionadas por lesões e alguma irregularidade, ainda que tenha deixado vislumbres da sua velocidade e talento.
Para 2025, decidiu dar mais um passo ambicioso, ao assinar pela Pramac Yamaha, formando dupla com Jack Miller num ano considerado decisivo para a sua carreira em MotoGP. Contudo, poucos meses após o início da temporada, o panorama alterou-se drasticamente. A Yamaha avançou rapidamente para assegurar os serviços do campeão mundial de Superbike em título, Toprak Razgatlioglu, para 2026 — decisão que deixou Oliveira sem futuro definido na estrutura de Iwata.
Forma atual e dificuldades
A passagem de Oliveira pela Yamaha tem estado longe de ser fácil. O português perdeu três rondas no início do ano devido a lesão, um contratempo que lhe custou ritmo e confiança. Desde o regresso, tem vindo a recuperar gradualmente, alcançando dois nonos lugares nas últimas provas — os melhores resultados obtidos até agora com a M1.
Apesar destes sinais encorajadores, Oliveira continua a ser o piloto da Yamaha mais abaixo na classificação geral. A sua posição de “outsider” contrasta com a atenção mediática em torno da chegada iminente de Razgatlioglu, deixando pouco espaço para otimismo dentro da estrutura.
Ainda assim, os resultados recentes lembraram a equipas e adeptos que Oliveira continua capaz de lutar pelo top 10 quando as circunstâncias são favoráveis. As observações de Binder reforçam a ideia de que, embora as estatísticas atuais não o favoreçam, a velocidade e o talento natural do português permanecem intactos.
Opções limitadas no MotoGP
De momento, a única perspetiva realista para Oliveira continuar ligado ao MotoGP passa por um possível papel de piloto de testes na Aprilia, com algumas participações pontuais como wild card. Tal cenário permitiria manter-se ativo no paddock e mostrar qualidade ocasionalmente, mas representaria um claro retrocesso face ao estatuto de piloto a tempo inteiro.
Esta indefinição tem alimentado especulações sobre uma mudança para o Mundial de Superbike. O português tem sido associado a lugares de fábrica tanto na Yamaha como na BMW, marcas que procuram reforçar os seus plantéis com um piloto de calibre MotoGP. Dada a sua idade e reputação, a transição para o WorldSBK poderia oferecer-lhe uma plataforma competitiva para lutar por vitórias e títulos noutra disciplina.
Binder e Oliveira: trajetórias paralelas
As palavras de incentivo de Binder carregam também um peso emocional, não só pela amizade mas pela forma como as suas carreiras têm corrido em paralelo. O sul-africano e o português foram colegas de equipa em Moto3, na Red Bull KTM Ajo, e mais tarde voltaram a encontrar-se em Moto2. Em 2021, reencontraram-se no MotoGP, formando a dupla oficial da KTM, onde Oliveira se destacou com vitórias surpreendentes.
Enquanto Binder conseguiu consolidar-se como líder da KTM na categoria rainha, o percurso de Oliveira foi mais turbulento, marcado por mudanças de equipa, lesões e contratempos inesperados. Ainda assim, Binder mantém-se convicto de que o português continua a merecer lugar no MotoGP, sublinhando que a velocidade e o talento natural não podem ser ignorados.
Resiliência posta à prova
Para Oliveira, o desafio imediato passa por manter a concentração e a motivação enquanto o seu futuro é debatido nos bastidores. O regresso após lesão e a conquista imediata de pontos provam resiliência, mas a pressão emocional de não ter garantias de continuidade é um peso difícil de suportar.
O apelo de Binder para que Oliveira recupere a confiança reflete um sentimento partilhado por muitos no paddock. Embora a estabilidade da moto e da equipa sejam fatores cruciais, os melhores desempenhos do português surgiram sempre quando corria com autoconfiança e agressividade, surpreendendo rivais com ultrapassagens ousadas e uma gestão de corrida precisa.
Uma decisão crucial pela frente
Aos 29 anos, Oliveira encontra-se num momento determinante da carreira. Manter-se no MotoGP, ainda que como piloto de testes, pode manter portas abertas para um eventual regresso a tempo inteiro. Por outro lado, uma mudança para o WorldSBK poderia oferecer-lhe novos desafios e a oportunidade imediata de lutar por vitórias e títulos.
Para os adeptos e colegas como Binder, a esperança é que Oliveira permaneça no MotoGP, onde o seu estilo único e a comprovada capacidade de vencer corridas sempre o tornaram num favorito dos fãs.
As palavras de Binder são um lembrete de que, num desporto onde resultados e contratos frequentemente se sobrepõem ao talento puro, pilotos como Oliveira podem ser facilmente esquecidos, apesar de possuírem qualidades que os distinguem.
Perspetivas
À medida que a temporada de 2025 avança, as prestações de Oliveira serão analisadas com lupa. Melhores resultados com a Yamaha poderiam fortalecer a sua posição negocial, seja para garantir uma última oportunidade no MotoGP ou para entrar no WorldSBK com maior confiança.
Entretanto, o apoio público de Binder destaca o respeito que Oliveira continua a inspirar entre os seus pares. “Ele é demasiado rápido para não estar aqui”, insistiu o sul-africano — uma afirmação que sublinha a frustração de muitos no paddock ao ver pilotos vencedores serem afastados por circunstâncias que vão além do desempenho puro.
Quer o próximo capítulo de Oliveira seja escrito no MotoGP ou no Mundial de Superbike, poucos duvidam da sua capacidade para continuar a protagonizar momentos de brilho. Para Binder, a esperança é simples: que o seu velho companheiro encontre a plataforma certa para mostrar ao mundo do motociclismo o quão “insano” pode ser quando tudo encaixa.