Federação Portuguesa de Futebol presta tributo emocionante a Jorge Costa, Diogo Jota e André Silva — Presidente do FC Porto, André Villas-Boas, anuncia continuidade do legado de Jota nos eSports
O mundo do futebol português reuniu-se na terça-feira, 2 de setembro, na Cidade do Futebol, em Oeiras, para um evento marcado pela dor e pela memória. A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) organizou uma cerimónia solene para homenagear três figuras ilustres do futebol nacional — Jorge Costa, Diogo Jota e André Silva — que faleceram tragicamente durante os meses de verão. O encontro juntou jogadores, dirigentes, familiares e adeptos, todos unidos para prestar homenagem a vidas que deixaram uma marca indelével no futebol português, dentro e fora dos relvados.
O ambiente no auditório da sede da Federação foi profundamente emocional, com momentos de silêncio e reflexão intercalados por palavras de gratidão, lembrança e admiração. Embora toda a cerimónia tivesse como objetivo destacar a perda coletiva, um anúncio em particular, feito pelo presidente do FC Porto, André Villas-Boas, destacou-se como um poderoso lembrete de como os legados podem prolongar-se para além da própria vida.
Villas-Boas fala com emoção
No seu discurso, Villas-Boas preferiu realçar não apenas os feitos desportivos de Diogo Jota, mas também as paixões pessoais que moldaram a sua identidade. O presidente do FC Porto revelou que Rute Cardoso, viúva de Jota, assumirá um papel ativo no clube, passando a liderar um projeto ao qual o seu falecido marido dedicou-se intensamente: a colaboração com a Luna, organização de eSports fundada pelo próprio Jota.
“Com o FC Porto, o Diogo criou algo que lhe era muito especial: os eSports”, afirmou Villas-Boas. “Estamos orgulhosos por perpetuar a sua memória através da Luna. Agora, a Rute assume a liderança da equipa e honra a memória do Diogo para sempre.”
As palavras foram recebidas com silêncio respeitoso pela audiência, onde muitos não esconderam a emoção perante o anúncio. A continuidade da iniciativa de eSports garante que a influência do internacional português não ficará apenas ligada aos relvados tradicionais, mas também ao universo digital que ele abraçou com tanto entusiasmo.
A paixão de Jota pelos eSports
Apesar de ser conhecido sobretudo pelo talento dentro de campo, o interesse de Jota pelo gaming nunca foi segredo. O avançado, que brilhou ao serviço do Wolverhampton Wanderers e do Liverpool, depois de se destacar em Portugal, era um jogador assíduo do simulador de futebol FIFA — atualmente EAFC. A sua paixão pelo jogo ia muito além do simples lazer: Jota competia em torneios online e ganhou reputação como gamer de alto nível, reconhecido não apenas como futebolista, mas também como jogador competitivo no mundo virtual.
A sua ligação ao gaming tornou-se icónica com uma celebração que levou o seu hobby para o futebol real: depois de marcar, Jota sentava-se e imitava a postura de quem segura um comando de consola, unindo simbolicamente os dois mundos. Essa celebração tornou-se viral, especialmente entre os adeptos mais jovens, que se identificaram com a dupla faceta de Jota — futebolista e gamer.
Após a sua morte prematura, essa celebração foi replicada por jogadores em vários campeonatos da Europa e em competições internacionais, transformando-se num gesto universal de homenagem. Sentar-se e fingir jogar consola tornou-se uma forma coletiva de recordar Jota e demonstrar a admiração e respeito que conquistou junto dos colegas de profissão.
Rute Cardoso assume a liderança da Luna
A nomeação de Rute Cardoso para liderar a Luna representa não apenas um gesto de continuidade, mas também um símbolo de resiliência. Para Villas-Boas e para o FC Porto, entregar o projeto a quem partilhou a vida com Jota garante que a visão criada por ele continuará a crescer sob a orientação de alguém que conhece profundamente a importância da iniciativa.
A Luna, fundada por Jota, reflete a ligação cada vez mais estreita entre os clubes de futebol e o universo dos jogos eletrónicos. Em vários países da Europa, clubes de topo como o Paris Saint-Germain, o Manchester City e o Schalke 04 já criaram divisões de eSports, aproximando-se de novos públicos e expandindo a sua influência para além do relvado. Para Jota, que cresceu rodeado por videojogos, a Luna foi tanto um projeto de paixão como uma forma de devolver à comunidade aquilo que ajudou a moldar a sua identidade.
Ao assumir este papel, Rute assegura que a Luna não apenas sobreviverá, mas prosperará, transformando-se num tributo vivo às ambições e ao caráter de Jota. A sua participação traz também uma dimensão pessoal única ao projeto, tornando-o não apenas uma iniciativa empresarial, mas uma missão familiar de preservação da memória através da inovação.
Recordando Jorge Costa e André Silva
Embora a história de Jota tivesse uma ligação mais íntima ao FC Porto, a cerimónia também homenageou duas outras figuras incontornáveis do futebol português que desapareceram este verão: Jorge Costa e André Silva.
Jorge Costa, carinhosamente apelidado de “O Tanque”, foi um defesa central imponente e capitão histórico do FC Porto durante a era dourada sob o comando de José Mourinho. Conhecido pela sua força, liderança e espírito intransigente, Costa representava o protótipo do defesa português da sua geração. A sua perda deixa um vazio profundo não só no universo portista, mas em todo o futebol nacional, onde será lembrado como símbolo de disciplina e lealdade.
André Silva, por sua vez, representava uma geração mais recente de avançados portugueses. Formado no FC Porto, destacou-se na equipa principal antes de partir para carreiras internacionais em clubes como AC Milan, Sevilla, Eintracht Frankfurt e RB Leipzig. Versátil, técnico e inteligente taticamente, Silva era visto como um dos atacantes mais consistentes do futebol europeu na última década. A notícia da sua morte abalou adeptos em todo o continente, pois muitos o consideravam um exemplo do avançado moderno português.
A cerimónia garantiu que todos os três — Costa, Jota e Silva — fossem homenageados em igualdade, celebrando não apenas os feitos individuais, mas também o contributo coletivo para elevar a reputação do futebol português no mundo.
O significado mais amplo da cerimónia
Para a Federação Portuguesa de Futebol, realizar o tributo na Cidade do Futebol teve um peso simbólico evidente. Este espaço, centro nevrálgico do futebol nacional, funciona como base de treino das seleções e sede administrativa da FPF. Escolher este local reforçou a ideia de que Jorge Costa, Diogo Jota e André Silva não eram apenas ídolos de clubes, mas património nacional, cujas histórias ultrapassam fronteiras desportivas.
O evento demonstrou também o poder unificador do futebol em momentos de dor. Representantes de vários clubes — FC Porto, Benfica, Sporting CP, entre outros — estiveram presentes, juntamente com delegações internacionais. Essa união, rara no contexto das rivalidades do futebol, refletiu a dimensão do respeito e da admiração que os três inspiraram ao longo das suas carreiras.
Um legado que permanece
Apesar de o verão de 2025 ter sido marcado por tragédias para o futebol português, os legados de Jorge Costa, Diogo Jota e André Silva permanecem profundamente enraizados no tecido do desporto nacional. Cada um deixou algo único: Costa, o exemplo de liderança e resiliência; Silva, a imagem do avançado moderno; e Jota, a ponte entre o futebol tradicional e o digital.
O anúncio de Villas-Boas sobre a Luna garante que a influência de Jota não se apagará com o tempo. Pelo contrário, evoluirá, inspirando novas gerações que poderão conhecê-lo primeiro como pioneiro dos eSports antes de descobrirem o seu percurso nos relvados. Essa dualidade — futebolista e gamer — ficará para sempre ligada ao seu nome, lembrando que a paixão pode assumir múltiplas formas.
Conclusão
A cerimónia de terça-feira, na Cidade do Futebol, foi mais do que uma homenagem. Foi uma declaração sobre a forma como o futebol honra os seus heróis e como os legados podem perdurar de maneiras inesperadas. Com Rute Cardoso a assumir a liderança da Luna, esta deixa de ser apenas uma equipa de eSports para se transformar num tributo vivo ao espírito de Diogo Jota. Paralelamente, as memórias de Jorge Costa e André Silva continuam a inspirar gerações que seguem os seus passos.
Para o futebol português, a perda é incalculável. Mas através da recordação, da dedicação e da continuidade de projetos como a Luna, as histórias destes três nomes permanecerão como fonte de força e inspiração. Em Oeiras, a comunidade futebolística mostrou que, embora os jogadores possam abandonar os relvados, a sua influência jamais desaparece.