Miguel Oliveira reflete sobre uma temporada de 2025 “humilhante” na MotoGP após lesão forçá-lo a deixar o paddock
Miguel Oliveira descreveu a temporada de 2025 da MotoGP como uma experiência “humilhante”, depois de uma lesão inoportuna ter arruinado a sua época e deixado o piloto português sem assento na categoria rainha para 2026.
O piloto luso iniciou o ano com otimismo em relação ao seu futuro, tendo ingressado na equipa Pramac Yamaha com um novo contrato que acreditava marcar o início de uma parceria de longo prazo. No entanto, uma queda na segunda ronda do campeonato, na Argentina, resultou numa lesão que o afastou de grande parte da primeira metade da temporada — um contratempo que acabaria por definir a sua campanha.
Falando antes do Grande Prémio de Portugal, Oliveira admitiu que o longo período de recuperação prejudicou a sua adaptação à M1 da Yamaha, depois de vários anos a competir exclusivamente com motos de motor V4. Essa interrupção, segundo o próprio, limitou a sua capacidade de demonstrar todo o seu potencial e dificultou os seus esforços para consolidar o seu lugar dentro do projeto da Yamaha.
“Foi uma experiência muito humilhante em todos os aspetos”, refletiu Oliveira. “Nada é garantido. Entrei com a expectativa de construir uma parceria de longo prazo, sabendo que tanto eu quanto a moto precisaríamos de tempo para nos adaptar. Mas a lesão apanhou-me de surpresa. Não foi uma daquelas lesões de rápida recuperação, em que se volta após algumas semanas — levou muito mais tempo do que o esperado. Isso atrasou o meu processo de aprendizagem com a moto, de compreendê-la e de levá-la ao limite. Infelizmente, as decisões que se seguiram deixaram-me sem assento.”
Apesar da desilusão de perder o seu lugar na MotoGP, Oliveira garantiu que não guarda ressentimentos, sublinhando que fez tudo o que estava ao seu alcance para garantir o futuro na categoria.
“Não acho que deva olhar para isto com rancor ou arrependimento”, afirmou. “Sei que dei o meu melhor. Esse é o sentimento com que preciso de ficar — o de que fiz tudo o que podia para permanecer, e mesmo que o meu melhor não tenha sido suficiente, posso estar em paz com isso.”
A olhar para o futuro: mudança para o WorldSBK com a BMW
Sem opções disponíveis na MotoGP para a próxima época, Oliveira mudará de disciplina em 2026, passando a competir no Mundial de Superbike (WorldSBK) com a BMW, ao lado do também ex-piloto de MotoGP Danilo Petrucci. Apesar desta mudança de direção na carreira, o piloto de 30 anos mantém a porta aberta para um eventual regresso à categoria rainha, caso surjam as condições certas.
“Definitivamente, não fecho a porta a um regresso à MotoGP como piloto a tempo inteiro”, assegurou. “Neste momento, essa oportunidade não existe, por isso o meu foco está naquilo que posso controlar — a próxima temporada e a corrida deste fim de semana. O futuro continua em aberto.”
Oliveira reconheceu que, como todos os pilotos, o seu grande objetivo continua a ser competir com uma moto capaz de vencer. Os anos passados fora da luta pelos pódios tornaram-no especialmente consciente do impacto mental e competitivo de estar numa equipa verdadeiramente competitiva.
“Todo o piloto sonha em estar numa posição para lutar por vitórias”, continuou. “Quando se tem uma moto capaz de competir na frente, isso dá-lhe uma motivação extra — aquele pequeno impulso adicional que faz a diferença. É isso que procuro, e espero poder senti-lo este fim de semana no meu Grande Prémio em casa.”
Motivação no regresso a casa e as memórias de glória de 2020
De regresso ao Autódromo Internacional do Algarve, Oliveira volta a competir diante dos seus adeptos — uma experiência que tem um significado especial para o único piloto português no Mundial de MotoGP. O circuito ocupa um lugar particularmente querido na sua carreira, pois foi lá que conquistou uma vitória dominante no Grande Prémio de Portugal de 2020, quando a prova regressou ao calendário pela primeira vez desde 2012.
Oliveira admitiu que a memória desse triunfo continua a inspirá-lo, mesmo que repeti-lo em 2025 pareça uma tarefa difícil.
“Sempre que volto aqui, há uma sensação de nostalgia por aquela vitória em 2020”, confessou. “Claro que cada temporada traz desafios e dificuldades diferentes, e esta não é exceção. Mas correr diante do meu público dá-me sempre motivação extra. Ser o único piloto português na grelha é uma honra, e darei sempre o meu melhor — talvez até um pouco mais neste fim de semana.”
Ao recordar a vitória de 2020, Oliveira reconheceu o quão marcante aquele momento foi na sua carreira, especialmente tendo em conta o nível de competitividade atual da MotoGP.
“Foi, sem dúvida, um dos melhores momentos da minha carreira”, afirmou. “Não tive muitas vitórias na MotoGP — cinco no total — mas ‘apenas cinco’ é um termo muito relativo, porque é incrivelmente difícil vencer nesta modalidade, especialmente agora. Ganhar em casa, na última corrida da temporada, e trazer Portugal de volta ao mapa da MotoGP — foi um dos pontos mais altos da minha carreira.”
Uma temporada de reflexão e resiliência
Enquanto se prepara para o que poderá ser o seu último fim de semana na MotoGP — pelo menos por agora — Oliveira fá-lo com uma mistura de orgulho, humildade e determinação. Os contratempos de 2025 trouxeram-lhe mais perspetiva do que frustração, e o seu foco passa agora por reencontrar o sucesso numa nova arena, ao serviço da BMW no Mundial de Superbike.
O piloto português mantém-se com os pés bem assentes na terra, consciente dos desafios que o esperam, mas igualmente determinado em aproveitar todas as oportunidades que surgirem. Para Oliveira, a temporada de 2025 pode ter sido humilhante, mas também foi uma recordação do espírito de resiliência e da capacidade de adaptação que definem um verdadeiro piloto.
“O mais importante agora é continuar em frente”, concluiu. “Aprendi muito este ano — sobre mim mesmo, sobre paciência e sobre o quão imprevisível este desporto pode ser. O que quer que venha a seguir, vou enfrentá-lo com a mesma paixão e compromisso que me trouxeram até aqui.”


