Fabio Quartararo envia uma mensagem clara à Yamaha: “O tempo das desculpas acabou”
Depois de mais um fim de semana difícil para a Yamaha, Fabio Quartararo pintou um quadro sóbrio sobre a situação atual do fabricante japonês. Embora o Grande Prêmio da Indonésia tenha oferecido alguns sinais de progresso, o francês deixou claro que o otimismo deve ser equilibrado com realismo. Em suas reflexões pós-corrida, Quartararo expressou tanto sua gratidão pelo esforço da equipe quanto sua profunda frustração com a falta de desenvolvimento por parte da fábrica da Yamaha. Com seu futuro intimamente ligado à evolução técnica da marca, o Campeão Mundial de MotoGP de 2021 estabeleceu agora um prazo firme para que o fabricante entregue uma moto competitiva — ou corra o risco de perdê-lo de vez.
Um fim de semana um pouco mais positivo em Mandalika
Depois de um fim de semana complicado em Motegi, onde a M1 da Yamaha pareceu completamente fora de lugar em um traçado dominado por longas retas e fortes frenagens, a equipe esperava um “reset” na Indonésia. O Circuito Internacional de Rua de Mandalika, com suas curvas rápidas e superfície de alta aderência, favorecia mais as características tradicionais da Yamaha — agilidade e velocidade em curva. Diferente do Japão, onde tanto Quartararo quanto o companheiro de equipe Álex Rins tiveram dificuldades para se manter no top 10, Mandalika ofereceu uma rara oportunidade de mostrar lampejos de competitividade.
Os sinais encorajadores apareceram desde o início. Três pilotos da Yamaha conseguiram se classificar diretamente para o Q2 na sexta-feira, um feito que destacou o progresso da equipe em desempenho de volta única. Na corrida de domingo, Rins chegou a disputar as primeiras posições durante dez voltas, brigando com Pedro Acosta e Álex Márquez por um possível pódio — algo raro para as motos azuis em 2025. Quartararo, por sua vez, adotou uma abordagem mais estratégica, gerenciando o desgaste dos pneus e mantendo um ritmo consistente ao longo da prova. Sua paciência foi recompensada: terminou em sétimo, a apenas dois segundos do pódio.
Em termos estatísticos, foi um dos melhores fins de semana da Yamaha na temporada. Ainda assim, mesmo com o paddock notando as melhorias, Quartararo tratou de esfriar qualquer entusiasmo exagerado. Para ele, os resultados em Mandalika apenas mascararam problemas mais profundos e sistêmicos que a Yamaha precisa enfrentar se quiser voltar à elite do MotoGP.
“Melhoramos aos sábados — não aos domingos”
Em sua análise pós-corrida, Quartararo foi direto ao ponto. “Como chefe de equipe, você tem que falar de forma positiva”, começou ele, “mas eu falo de forma mais realista. Onde melhoramos enormemente foi em volta única, mas ainda estamos muito atrás no ritmo de corrida. Não houve evolução aí.”
A frustração do francês vem do fato de que, embora o desempenho da Yamaha nas qualificações tenha melhorado visivelmente, sua competitividade em ritmo de corrida continua estagnada. “Ano passado eu não marcava pontos porque largava em 17º ou 18º”, explicou. “Agora estou largando em primeiro, terceiro, quinto — e é isso que faz a grande diferença. Mas em termos de ritmo, é praticamente o mesmo.”
Em resumo, melhores posições no grid estão mascarando a falta de performance real no domingo. A consistência de Quartararo no top 10 tem mais a ver com uma execução aprimorada nas classificações do que com evolução técnica significativa. Para um piloto de seu calibre, acostumado a lutar por títulos, isso está longe de ser suficiente.
Estagnação no desenvolvimento: “O maior passo foi em 2024”
Ao avaliar o programa de desenvolvimento da Yamaha para 2025, Quartararo não poupou palavras. “O maior passo que demos para 2025 foi o teste que fizemos em Barcelona em 2024”, recordou. Esse teste, que introduziu um chassi revisado, deu ao francês uma sensação de direção mais clara e melhorou ligeiramente sua confiança na entrada de curva — uma área tradicionalmente forte da Yamaha. “Mas desde então”, lamentou, “não demos mais grandes passos. Mudamos um pouco a aerodinâmica, mudamos o motor duas vezes, mas nossa velocidade máxima continua muito baixa.”
Essa falta de progresso tem se tornado uma grande preocupação tanto para Quartararo quanto para a própria Yamaha. O déficit da M1 em linha reta é um problema persistente há várias temporadas, frequentemente deixando seus pilotos indefesos diante das máquinas Ducati, KTM e Aprilia, que dominam os gráficos de velocidade. Apesar de duas atualizações de motor em 2025, a diferença praticamente não mudou.
Para piorar, Quartararo confirmou que não há mais atualizações planejadas até o final da temporada. “Não, nada novo”, disse de forma seca. Essa declaração reflete o clima de estagnação dentro da fábrica da Yamaha — um contraste gritante com o ritmo de desenvolvimento acelerado dos rivais.
O projeto V4: promessa ou miragem?
Há meses, grande parte das esperanças de longo prazo da Yamaha repousa sobre o novo projeto do motor V4 — uma mudança radical em relação ao tradicional motor de quatro cilindros em linha que define a M1 desde sua criação. O V4, previsto para estrear em 2026, vem sendo desenvolvido em Iwata há algum tempo, e Quartararo já testou o primeiro protótipo em Barcelona e Misano. No entanto, suas impressões até agora têm sido mistas.
“Potencialmente, o projeto de 2026 será o V4”, reconheceu, “mas, para mim, o potencial do V4 ainda está muito atrás do quatro em linha. O projeto acabou de começar, e há muito trabalho a fazer. Por enquanto, o potencial da nossa moto atual ainda é maior do que o do V4.”
É uma admissão que levanta sobrancelhas. O V4 deveria representar uma nova era para a Yamaha — um salto tecnológico destinado a reduzir a distância para o domínio da Ducati. No entanto, se a avaliação de Quartararo for precisa, o projeto ainda está em estágio inicial, e a Yamaha pode levar anos até alcançar a paridade com as equipes da frente.
O ultimato: “Quero uma moto competitiva até Sepang”
À medida que a temporada entra em sua reta final, Quartararo deixou claro que sua paciência está chegando ao limite. Sua renovação com a Yamaha foi baseada na confiança — a crença de que a fábrica lhe daria um pacote capaz de lutar novamente por vitórias. Mas essa confiança tem prazo de validade. Ele agora traçou uma linha clara: os testes de pré-temporada de 2026 serão o momento decisivo para a Yamaha.
“Quero ter a moto mais competitiva possível para os testes da Malásia”, declarou. “A Tailândia é normalmente quando temos a moto definitiva para a temporada. Não há muito tempo para mudar entre os testes e as corridas. Então eles realmente precisam trazer a melhor moto possível para esses testes.”
O tom do francês deixa pouca margem para dúvidas. Para ele, Sepang é o ponto de virada. “Neste momento, o equipamento que temos não nos permite lutar nem por um top 5 no campeonato”, admitiu. “Isso é o que precisamos mudar. É por isso que estou pressionando tanto os engenheiros para termos uma moto melhor no próximo ano.”
Atritos internos: mecânicos vs. engenheiros
Quartararo fez questão de distinguir sua equipe de corrida — que elogia pela dedicação — do departamento de desenvolvimento da Yamaha no Japão, que, segundo ele, falhou em entregar o progresso necessário. “Minha equipe está fazendo o máximo”, disse. “Meus mecânicos, meu chefe de equipe — todos estão trabalhando muito para me dar a melhor sensação possível. Mas eles não são os responsáveis por desenvolver a moto. Eles não podem produzir um novo motor ou um novo chassi.”
O francês reconheceu que, embora o clima dentro de sua garagem permaneça positivo, surgiram tensões com os responsáveis técnicos da fábrica. “Com certas pessoas, está um pouco mais tenso”, admitiu. “Mas eu sei com quem devo passar tempo no box, e o ambiente ali é bom.”
Suas declarações refletem uma frustração comum entre pilotos de MotoGP que se veem presos entre mecânicos apaixonados e departamentos de fábrica lentos. A franqueza de Quartararo sobre essas dinâmicas internas destaca sua crescente impaciência — e sua consciência de que o tempo não está a seu favor.
Olhando adiante: o desafio australiano
O paddock do MotoGP agora segue para Phillip Island, na Austrália — um circuito que tradicionalmente expõe as fraquezas da Yamaha. A M1 tem sofrido lá nos últimos anos devido a problemas recorrentes de eletrônica e aderência, especialmente em condições frias e ventosas. Quartararo não esquece essas dificuldades. “Já tivemos problemas eletrônicos em Phillip Island no passado”, lembrou recentemente. “Se não os resolvermos, pode ser um fim de semana difícil novamente.”
Ainda assim, o francês mantém um otimismo cauteloso. “Se os pneus funcionarem bem, podemos ser rápidos lá”, afirmou. A boa estabilidade em curva da Yamaha e a natureza veloz do circuito australiano podem favorecer as limitadas virtudes da M1 — desde que a equipe consiga superar suas inconsistências eletrônicas.
Um cruzamento crucial
À medida que 2025 se aproxima do fim, a situação de Fabio Quartararo reflete a própria Yamaha: uma história de potencial não realizado, de lealdade testada e de transformação iminente. O fim de semana em Mandalika pode ter oferecido um vislumbre de competitividade, mas também evidenciou o quanto a fábrica ainda está distante da verdadeira disputa. A mensagem de Quartararo, transmitida com clareza e convicção, é inconfundível — os próximos meses decidirão se a Yamaha continuará sendo sua casa de longo prazo ou se chegou a hora de seguir outro caminho.
O Campeão Mundial de 2021 nunca escondeu seu carinho pela Yamaha, a marca que lhe deu sua primeira vitória na MotoGP e o maior triunfo da carreira. Mas, ao entrar nos anos de auge da sua trajetória, o sentimento já não pode superar a ambição. A menos que os engenheiros da Yamaha apresentem um verdadeiro avanço até os testes de inverno de 2026, a paciência — e possivelmente a fidelidade — de Fabio Quartararo podem finalmente chegar ao fim.