Andrés Fernández: Das Balizas à Inteligência Artificial e aos Negócios
Aos 38 anos, o veterano guarda-redes espanhol Andrés Fernández já começa a vislumbrar uma vida profissional para além do relvado. Atualmente ao serviço do Almería, na La Liga, Fernández soma mais de duas décadas entre os postes, defendendo as cores de clubes em Espanha e no estrangeiro. Embora a sua carreira tenha sido marcada pela consistência e experiência, sobretudo na primeira divisão espanhola, ele também está a construir uma identidade paralela: a de empreendedor profundamente ligado à tecnologia e à inovação.
Ainda dedicado diariamente ao futebol, Fernández tem discretamente lançado as bases do seu futuro pós-carreira, aventurando-se em áreas pouco habituais entre atletas profissionais. A sua trajetória combina a disciplina de um desportista de elite com a curiosidade de um tecnólogo, criando um caminho que funde paixão, resiliência e visão de futuro.
Uma Breve Passagem por Portugal
A longa carreira de Fernández desenrolou-se maioritariamente em Espanha, mas na época 2014/15 deu um passo além-fronteiras para representar o FC Porto. Sob o comando de Julen Lopetegui, o guarda-redes realizou apenas quatro jogos pelos dragões. Ainda assim, essas quatro partidas foram únicas: Fernández jogou os 90 minutos em quatro competições diferentes — Primeira Liga, Taça de Portugal, Taça da Liga e Liga dos Campeões da UEFA.
Foi uma aventura curta mas diversificada, que lhe permitiu experimentar a vida fora do seu país natal e testar-se num contexto competitivo distinto. Embora não se tenha afirmado como titular no Porto, valoriza esse período como parte do percurso rico e variado que moldou a sua visão — tanto no desporto como além dele.
Uma Paixão enraizada na Tecnologia
O que realmente distingue Fernández de muitos colegas de profissão é a sua afinidade com a tecnologia. Muito antes de pensar na reforma, já tinha dado os primeiros passos no mundo da computação e da inteligência artificial. Em 2019, fundou a sua primeira empresa, a Biyectiva, uma consultora que aplica soluções de IA para otimizar o desempenho e a eficiência de grandes organizações.
Recordando as origens desta paixão, Fernández destaca a influência familiar:
“O meu pai gostava de coisas tecnológicas e transmitiu-me esse interesse. Desde pequeno, a tecnologia chamava sempre a minha atenção. Comecei a estudar Informática e passei vários anos a programar”, explicou em entrevista ao As.
No entanto, as exigências de uma carreira profissional no futebol — viagens constantes, mudanças de cidade e o ritmo intenso de treinos e jogos — obrigaram-no a interromper os estudos formais.
“Quando entrei na dinâmica profissional do futebol, tornou-se complicado manter esses estudos. Hoje em dia há mais facilidades e recursos para atletas que querem continuar a aprender, mas naquela altura era mais difícil”, disse.
Apesar da pausa académica, a curiosidade nunca desapareceu. Fernández redirecionou a energia para a autoaprendizagem e para o envolvimento prático em negócios. Com o tempo, formou-se em gestão empresarial, encontrando aí um desafio e uma válvula de escape criativa em paralelo com o futebol.
Conciliar Futebol e Negócios
Para Fernández, o futebol manteve-se sempre como prioridade.
“A minha dedicação ao futebol é total, e sou muito metódico com as pausas e viagens. Sempre priorizei o desporto”, sublinhou.
Isto significa que não pode estar envolvido no dia a dia das suas empresas. O seu contributo é sobretudo estratégico, de acompanhamento e de apoio.
“O meu trabalho tem sido, sobretudo, observar as situações que os meus sócios e trabalhadores enfrentam diariamente e tentar ajudar e incentivá-los. Acho que o desporto ajuda muito nisso. Os atletas estão habituados a lidar com erros ou fracassos, e temos de transformá-los em sucessos ou simplesmente recuperar e continuar a trabalhar”, explicou.
Esta mentalidade — transferir as lições do desporto para o mundo empresarial — define o seu estilo de liderança. A resiliência e a capacidade de adaptação aprendidas no campo tornam-se ferramentas valiosas na tomada de decisões corporativas.
Expansão para a Indústria Desportiva
Para além da inteligência artificial, Fernández também entrou no mercado de equipamentos desportivos. É sócio da Oxum Sport, uma marca que começou por especializar-se em caneleiras personalizadas. O projeto nasceu da amizade e de uma oportunidade.
“Sempre vi os negócios como caminhos onde se conhecem boas pessoas. Na tecnologia, tenho parceiros muito valiosos, e neste caso tinha um bom amigo que tinha trabalhado numa marca desportiva durante quinze anos. Ele estava esgotado e eu disse: ‘Porque não crias a tua própria marca?’ Ele aceitou o desafio, e começámos a avaliar o projeto”, recordou.
As caneleiras personalizadas foram a porta de entrada num setor competitivo. Com o tempo, a marca ganhou força, e os sócios decidiram alargar a oferta.
“Este ano também vamos lançar luvas de guarda-redes. É outro caminho”, revelou, sublinhando a ambição de diversificar e expandir a empresa no mercado desportivo.
Preparar a Vida Depois do Futebol
À medida que a carreira se aproxima do fim, Fernández tem naturalmente enfrentado questões sobre o futuro. Vai continuar ligado ao futebol, dedicar-se totalmente aos negócios ou explorar novas áreas? A resposta é honesta e aberta:
“Não sei bem o que vai ser. Aliás, nem sei onde vou viver. A minha mulher é de León. Eu sou de Múrcia. Já vivi em bons sítios. Aqui em Almería, a vida é muito boa [risos]. A vida às vezes muda muito de um ano para o outro.”
Essa incerteza, no entanto, é compensada pela segurança de já ter construído uma ponte para novos horizontes profissionais. Ao contrário de muitos atletas que só começam a preparar-se após a reforma, Fernández desenvolveu proativamente projetos que lhe permitirão uma transição mais suave quando chegar o momento.
O Contexto Mais Amplo: Atletas e Negócios
A trajetória de Fernández reflete uma tendência crescente entre atletas profissionais que reconhecem a importância de planear a vida pós-desportiva. Com carreiras que geralmente terminam por volta dos 30 anos, os futebolistas estão cada vez mais a investir em educação, empreendedorismo ou parcerias para garantir estabilidade a longo prazo.
No seu caso, a escolha pela tecnologia é particularmente significativa. A inteligência artificial é uma das indústrias mais dinâmicas e transformadoras da atualidade. Ao fundar empresas como a Biyectiva, Fernández não só diversifica a sua carreira, como se posiciona num setor com enorme potencial futuro. A sua dupla identidade — futebolista e empresário tecnológico — quebra estereótipos de atletas desligados de áreas intelectuais ou científicas.
De igual forma, o seu envolvimento na Oxum Sport mostra como a experiência profissional pode informar os negócios. Tendo passado anos dentro de campo, conhece melhor do que ninguém as necessidades e preferências dos jogadores. Esse conhecimento é uma mais-valia para criar produtos como caneleiras ou luvas de guarda-redes.
Um Legado Para Além da Baliza
Embora a carreira de Fernández ainda não tenha terminado, a sua história já vai muito além do futebol. Ele mostra que os atletas podem usar a sua plataforma, recursos e disciplina para construir futuros que transcendam o desporto.
Quer se estabeleça em León, Múrcia ou Almería, quer permaneça ligado ao futebol ou se dedique inteiramente aos negócios, Andrés Fernández demonstrou visão e iniciativa. Os seus projetos empresariais não são meros passatempos, mas empreendimentos sólidos que refletem curiosidade, ambição e adaptabilidade.
Para os jogadores mais jovens que observam o seu caminho, fica também uma lição implícita: as carreiras são finitas, mas as paixões podem ser múltiplas. Preparar-se com antecedência, investir na aprendizagem e transferir os valores desportivos para outras áreas pode tornar a transição mais tranquila e enriquecedora.
Conclusão
Do Porto a Almería, de jogos de campeonato a noites de Liga dos Campeões, Andrés Fernández viveu os altos e baixos do futebol profissional. Mas igualmente impressionante é a forma como se preparou para o que vem depois do apito final.
Através de empresas tecnológicas como a Biyectiva e de projetos desportivos como a Oxum Sport, está a construir um legado que une inovação, resiliência e visão empreendedora.
Aos 38 anos, o guarda-redes continua a defender a baliza do Almería com a mesma dedicação de sempre, mas para lá da linha de golo já está a desenhar uma segunda carreira. Seja na inteligência artificial, nos equipamentos desportivos ou em novos caminhos ainda por explorar, Andrés Fernández representa o atleta moderno: definido não apenas pelo desempenho em campo, mas também pela criatividade e ambição de prosperar depois de pendurar as luvas.