Miguel Oliveira trabalha na eletrônica da Yamaha em Misano e define metas realistas para a temporada
O piloto português de MotoGP Miguel Oliveira passou a manhã de segunda-feira no Circuito Mundial de Misano Marco Simoncelli concentrado em uma área que se tornou cada vez mais crítica na categoria rainha: a eletrônica. Vindo de um nono lugar na corrida de domingo, o piloto da Yamaha direcionou a sua atenção para o controle de tração, controle de estabilidade e para o equilíbrio geral do pacote eletrônico da M1, numa tentativa de extrair mais consistência e previsibilidade da moto.
Uma sessão de testes centrada em tração e estabilidade
O objetivo de Oliveira durante o teste pós-corrida foi claro. Embora não se esperasse ganhos imediatos em termos de velocidade pura em meio dia de voltas, o português acreditava que melhorias incrementais na forma como os sistemas da Yamaha trabalham em conjunto poderiam trazer benefícios significativos ao longo de uma corrida completa.
“Estive a testar alguns ajustes eletrônicos relacionados ao controle de tração”, explicou Oliveira após o tempo em pista. “A ideia foi juntar algumas soluções e otimizar o comportamento da moto, sobretudo nas saídas de curva quando a aderência não é ideal. O asfalto de Misano oferece uma boa tração, mas, à medida que as condições mudam ao longo do fim de semana de corrida, é importante ter uma eletrônica que se adapte de forma eficaz. Tentámos melhorar um pouco em todo o lado, e cada pequeno ganho conta neste nível.”
Uma das principais queixas de Oliveira durante o Grande Prémio de San Marino esteve relacionada com a estabilidade, especialmente nas fases de aceleração, quando a Yamaha pode tornar-se imprevisível. Esse ponto, confirmou, também fez parte do programa de testes.
“Exatamente — é por isso que estamos a tentar, primeiro, fazer com que o controlo de tração funcione de uma forma diferente”, disse. “Não necessariamente melhor em termos de pura performance, mas de um modo mais gerível e previsível. A ideia é que, se o TC trabalhar de maneira diferente, então o controlo de estabilidade pode complementá-lo de forma mais eficaz, sobretudo quando se levanta a moto à saída de curva e se lida com um pouco de deslize.”
Ganhos marginais que fazem diferença numa corrida
Embora a sessão em Misano não tenha sido um grande teste de desenvolvimento — a Yamaha ainda prepara um pacote de atualizações mais abrangente para mais tarde na temporada —, Oliveira sublinhou que o trabalho esteve longe de ser inútil. No competitivo pelotão intermédio, onde décimos de segundo por volta podem separar vários pilotos em posições finais distintas, até ganhos mínimos na gestão de tração e estabilidade podem determinar se um piloto termina dentro do top 10 ou se afasta para as últimas posições pontuáveis.
As motos de MotoGP dependem cada vez mais da eletrônica para gerir a potência crescente das máquinas modernas, e otimizar a relação entre o controlo de tração, a entrega de torque e o controlo de estabilidade é muitas vezes tão importante quanto as evoluções mecânicas de chassis ou aerodinâmica. O foco de Oliveira nessa área destaca a estratégia atual da Yamaha: maximizar o que está disponível a curto prazo enquanto se aguarda a chegada de mudanças técnicas mais amplas.
Pragmatismo define os objetivos de Oliveira para a temporada
Para além do trabalho técnico, Oliveira também refletiu sobre as suas expectativas para o restante da temporada de 2024. A sua avaliação foi marcadamente pragmática, enraizada na realidade da posição atual da Yamaha na hierarquia do MotoGP.
“No ponto em que estou neste momento com a moto, realisticamente a minha posição é entre P13 e P10”, admitiu. “É essa a janela em que sinto que posso lutar de forma consistente com o pacote que temos agora.”
Essa afirmação refletiu o cenário visto no domingo, quando Oliveira levou a sua Yamaha ao nono lugar. Foi um resultado que sublinhou a sua capacidade de conquistar top 10 nos dias certos, mas também destacou que lutar por pódios ou lugares entre os seis primeiros continua fora de alcance com a atual M1.
“Algumas corridas podem ser dentro do top 10, como vimos ontem”, acrescentou. “Mas penso que é importante manter os pés no chão. Neste momento, estou curioso para ver se, ao qualificar-me melhor, consigo também fazer melhores corridas.”
O enigma da qualificação
A observação de Oliveira sobre a qualificação não foi feita por acaso. No MotoGP moderno, onde as ultrapassagens se tornaram cada vez mais difíceis devido à aerodinâmica e à competitividade apertada, a posição de largada pode decidir o resultado de domingo. Oliveira tem-se visto frequentemente a partir de fora do top 10, o que o deixa preso no tráfego e incapaz de explorar totalmente o seu ritmo de corrida.
Esse ritmo, sublinhou, não está distante do seu companheiro de equipa Fabio Quartararo — um referencial importante dentro da garagem.
“O ritmo é bastante bom e não está muito longe do Fabio”, destacou Oliveira. “Isso mostra que o potencial está lá. O que preciso de fazer é concentrar-me em qualificar melhor, porque se puder arrancar mais perto da frente, então posso correr mais próximo do Fabio e talvez lutar por melhores resultados.”
Esse reconhecimento evidencia a abordagem de Oliveira para a segunda metade da temporada: aproveitar ao máximo o que já está disponível em vez de sonhar com melhorias radicais de um dia para o outro. O programa de desenvolvimento da Yamaha está em andamento, mas entretanto, Oliveira sabe que a execução na qualificação, a consistência no ritmo de corrida e a pontuação regular são as suas principais armas.
Manter a Yamaha na luta
Para Oliveira, o restante da temporada de 2024 não se resume a resultados de manchete, mas sim a manter a presença da Yamaha na luta por pontos em todos os fins de semana. Com a fabricante japonesa ainda em fase de reconstrução e reestruturação, o português abraçou o papel de colaborador consistente — procurando pequenos ganhos significativos e, ao mesmo tempo, fornecendo feedback valioso para futuras atualizações.
“Trata-se de tirar o máximo do que temos agora”, resumiu. “Se eu conseguir ser consistente dentro dessa janela de P13 a P10, qualificar um pouco melhor e mostrar progresso, então isso já é um bom sinal para nós.”
Contexto mais amplo: dificuldades e perspetivas da Yamaha
Os comentários de Oliveira também lançam luz sobre a situação mais ampla da Yamaha. A fábrica tem enfrentado dificuldades nas últimas temporadas, lutando para igualar a velocidade máxima e a sofisticação aerodinâmica da Ducati e da Aprilia, bem como o equilíbrio competitivo da KTM. O resultado tem sido uma moto que, embora ainda capaz de resultados pontuais fortes, não dispõe das ferramentas para lutar consistentemente na frente.
Para pilotos como Quartararo e Oliveira, isso tem significado ajustar as expectativas e concentrar-se nos pequenos passos. A visão realista de Oliveira não é uma resignação, mas sim um reconhecimento do limite atual, aliado à determinação de avançar sempre que possível. O seu contributo na área da eletrônica faz parte dessa equação, à medida que os engenheiros da Yamaha procuram melhorias que tornem a moto mais competitiva em condições de corrida.
Um piloto focado em progresso, não em ilusões
O que mais se destaca na perspetiva de Oliveira é a sua honestidade. Em vez de enquadrar a situação da Yamaha em termos excessivamente otimistas, ele tem sido claro sobre onde ele e a moto se encontram. O nono lugar em Misano foi um resultado respeitável, mas Oliveira sabe que tais desempenhos continuarão a ser exceções até que mudanças mais abrangentes sejam implementadas.
Esse realismo, no entanto, não diminui a sua motivação. Pelo contrário, reforça o seu foco nos elementos controláveis: desempenho em qualificação, consistência no ritmo de corrida e feedback detalhado aos engenheiros. Num desporto onde muitos pilotos estabelecem metas ambiciosas que não correspondem à capacidade das suas motos, o equilíbrio de pragmatismo e determinação de Oliveira é um trunfo para a Yamaha nesta fase de transição.
Olhando para a frente
À medida que a temporada de 2024 entra na reta final, a missão de Oliveira é clara. Ele continuará a trabalhar na afinação do pacote eletrônico da Yamaha, especialmente na interação entre o controlo de tração e o de estabilidade, enquanto procura também melhorar as suas prestações em qualificação. O objetivo não é apenas terminar o mais próximo possível de Quartararo, mas também manter a Yamaha competitiva na acirrada luta do pelotão intermédio.
Com um teto realista situado entre P10 e P13, Oliveira pode não estar a lutar por pódios no imediato. Mas num ano em que a Yamaha trabalha para lançar as bases de um 2025 mais forte, as suas contribuições — tanto nos testes como nas corridas — têm um peso significativo. Cada dado recolhido, cada informação sobre o comportamento da eletrônica e cada ponto somado importa no contexto da recuperação da Yamaha.
Para Oliveira, isso significa abraçar o processo, maximizar as oportunidades e demonstrar resiliência. Como ele próprio resumiu: “Na verdade, só quero focar-me nisso.”