Miguel Oliveira Fica Sem Lugar na Pramac Yamaha para 2026 com a Escolha de Miller e Razgatlioglu
Os ventos de mudança no MotoGP sopram, muitas vezes, de forma imprevisível e, em 2026, farão isso na Pramac Yamaha, deixando Miguel Oliveira sem espaço no futuro da equipa. O piloto português, que assinou um contrato “um mais um” com a Pramac em 2024, soube que a sua aventura com a estrutura não continuará para além da próxima temporada. Em vez disso, a equipa satélite da Yamaha decidiu manter Jack Miller e contratar Toprak Razgatlioglu, um movimento que fecha a porta às esperanças de Oliveira em concretizar o projeto a longo prazo ao qual tinha inicialmente se comprometido.
Para Oliveira, agora com 30 anos, a decisão foi um amargo golpe. Falando abertamente ao site oficial do MotoGP, admitiu que, embora compreendesse as pressões do desporto e a realidade das decisões das equipas, a notícia o apanhou de surpresa.
“Antes de Balaton, fui informado desta decisão”, disse Oliveira. “Foi um pouco surpreendente. Claro que sabia que o projeto nunca seria fácil, mas acreditava realmente que iria ter a oportunidade de mostrar mais no segundo ano.”
Um Projeto Construído com Paciência
Quando ingressou na Pramac Yamaha no início de 2024, Oliveira aceitou que estava a embarcar num projeto a longo prazo que exigia paciência e resiliência. A M1 da Yamaha, em plena fase de desenvolvimento para tentar alcançar Ducati, Aprilia e KTM, era considerada uma máquina difícil de dominar. Oliveira, com a sua experiência tanto na KTM como na Aprilia, foi visto como um candidato sólido para ajudar a marca japonesa a acelerar o seu progresso.
“Em 2024, assinei um projeto de um ano mais um”, explicou Oliveira. “Sabíamos que o primeiro ano seria uma espécie de ano de aprendizagem. Tratava-se de sofrer nos momentos difíceis, terminar corridas por vezes em posições que não refletiam realmente o meu nível. O plano era aguentar essa primeira época e depois apontar mais alto em 2025.”
Mas as coisas não correram como planeado. A época do português foi quase imediatamente afetada por uma lesão precoce, seguida por mudanças inesperadas na direção a longo prazo da equipa.
Lesão e Impulso Interrompido
O momento decisivo surgiu no Grande Prémio da Argentina, onde Oliveira esteve envolvido num forte acidente com Fermín Aldeguer. A queda deixou-o com uma lesão no ombro que o obrigou a falhar quatro corridas numa fase crucial da temporada. Para um piloto em adaptação a uma nova moto, cada volta é valiosa, e perder quase um quarto do calendário foi um golpe devastador.
“Infelizmente, sofri uma lesão no início da época que me fez perder muitas corridas”, disse Oliveira. “E depois, quando regressei, todos já sabiam que outro piloto tinha assinado. Foi uma surpresa, uma pressão adicional. O timing foi complicado—interrompeu-me num momento em que o potencial era maior, quando sentia que estava a começar a entender a moto.”
Esse “outro piloto” era Toprak Razgatlioglu, a estrela turca do Mundial de Superbike cuja chegada ao projeto satélite da Yamaha em MotoGP acrescentou tanto entusiasmo como incerteza. A entrada de Razgatlioglu na Pramac foi uma aposta de alto perfil por parte da Yamaha, um sinal claro para Oliveira de que o seu futuro na equipa estava cada vez mais em risco.
Um Contrato Baseado no Desempenho
Oliveira revelou que o seu acordo com a Pramac Yamaha incluía uma cláusula de desempenho—uma estipulação que permitia à equipa reavaliar a sua posição com base nos resultados. Com apenas 10 pontos conquistados em 14 corridas e sem qualquer top-10, o português admitiu não ter cumprido os requisitos. Mas foi rápido a sublinhar que as circunstâncias não foram nada fáceis.
“A minha situação era bastante clara porque tinha uma cláusula de desempenho no contrato”, disse. “Essa cláusula não foi respeitada, em parte devido à lesão, mas também porque em algumas corridas a moto não tinha rendimento suficiente. Não consegui mostrar realmente o meu potencial. Nunca duvidei das minhas capacidades, mas as condições não estavam lá para prová-lo totalmente.”
Com efeito, as dificuldades da Yamaha com a M1 têm sido amplamente documentadas. A moto carece da velocidade de ponta e aceleração das rivais, deixando os seus pilotos a lutar no fundo da grelha. Para Oliveira, habituado a disputar pódios nos seus melhores anos com a KTM, a situação foi particularmente frustrante.
“Terminar em último não faz parte dos meus planos como piloto”, afirmou de forma contundente. “Isso não revela o meu verdadeiro valor e capacidades. Continuar assim seria sempre difícil, independentemente do que o contrato dissesse.”
A Dura Realidade dos Números
As estatísticas puras pintam um quadro complicado para a passagem de Oliveira pela Pramac até agora. Em 14 corridas concluídas, somou apenas 10 pontos no campeonato, terminando muitas vezes bem atrás. A sua adaptação à Yamaha M1 foi prejudicada não só pela lesão, mas também pelas constantes atualizações testadas pela equipa de fábrica, que deixavam os pilotos satélite a lidar com configurações inconsistentes.
Embora Oliveira tenha mostrado lampejos de velocidade em qualificações e treinos livres, esses sinais não se traduziram em resultados ao domingo. Em comparação com Jack Miller, que conseguiu algumas classificações de meio da tabela apesar das suas próprias dificuldades, os números de Oliveira deixaram pouca margem de negociação quando chegou a altura de a Pramac definir a sua dupla para 2026.
Uma Carreira na Encruzilhada
Para Oliveira, o fim da aventura na Pramac deixa o futuro em aberto. Já circulam rumores que o ligam a possíveis funções fora do projeto Yamaha. Uma hipótese é assumir o papel de piloto de testes, talvez com um fabricante em busca de experiência para desenvolver o seu protótipo. Com o seu feedback técnico amplamente elogiado, Oliveira poderia ser uma peça valiosa para ajudar uma equipa a refinar o seu pacote.
Outra opção seria uma mudança para o Campeonato do Mundo de Superbike, onde o estilo e a experiência de Oliveira poderiam torná-lo imediatamente competitivo. Várias equipas do campeonato estarão, alegadamente, atentas à sua situação, cientes de que um piloto do seu calibre poderia elevar a sua competitividade.
“O futuro está totalmente em aberto para mim neste momento”, admitiu Oliveira. “Não posso dizer exatamente que direção vou seguir, mas estou aberto a todas as opções. Ainda sinto que tenho muito para dar e estou motivado para continuar. Neste momento, só quero processar tudo e focar-me no que vem a seguir.”
Desilusão, mas Sem Ressentimento
Apesar da frustração evidente, a reação de Oliveira à notícia foi medida e profissional. Reconhecendo a sua desilusão, evitou críticas duras à Pramac Yamaha ou às pessoas envolvidas na decisão. Preferiu enquadrar o acontecimento como parte da imprevisível jornada de um piloto profissional.
“É assim a vida, e seguimos em frente”, disse. “Claro que não estou contente. Mas também não estou ressentido. Compreendo as pressões, os contratos, os resultados. Isso não altera a minha motivação. Apenas significa que tenho de encontrar um novo caminho.”
O Que a Decisão Significa para a Pramac e a Yamaha
Da perspetiva da Pramac Yamaha, a escolha para 2026 reflete tanto estabilidade como ambição. Ao manter Jack Miller, a equipa conserva um piloto com experiência vencedora e uma forte relação de trabalho com os engenheiros da Yamaha. Ao adicionar Razgatlioglu, injeta entusiasmo e traz um piloto com enorme popularidade, sobretudo na Turquia e entre os adeptos do WorldSBK.
A decisão sinaliza também a intenção da Yamaha em acelerar o desenvolvimento, rodeando o seu programa de pilotos que ou têm conhecimento profundo da M1 (Miller) ou talento extraordinário em outras máquinas (Razgatlioglu). Infelizmente para Oliveira, isso deixou-o como a peça descartável no puzzle.
Perspetivas Futuras
À medida que o paddock de MotoGP continua a evoluir, Oliveira enfrenta agora uma das decisões mais importantes da sua carreira. Deve arriscar numa nova oportunidade em MotoGP, possivelmente numa equipa mais pequena, para manter o seu lugar na categoria rainha? Ou deve dar o salto para o Mundial de Superbike, onde poderia lutar imediatamente por vitórias? Um papel de piloto de testes também lhe permitiria permanecer no círculo do MotoGP enquanto se prepara para uma nova oportunidade.
Aos 30 anos, Oliveira continua nos anos de auge da sua carreira. É um vencedor de cinco Grandes Prémios, conhecido pela sua inteligência em corrida e capacidade de adaptação. Embora a sua passagem pela Pramac Yamaha fique provavelmente marcada como um capítulo frustrante, poucos duvidam de que ainda tem capacidade para competir ao mais alto nível—desde que lhe seja dado o pacote certo.
Por agora, Oliveira mantém-se filosófico. “Ia ser difícil continuar assim de qualquer forma”, disse. “Mas o futuro está aberto, e mal posso esperar para ver o que vem a seguir.”