MotoGP 2026: Que Pilotos Estão em Risco com a Reconfiguração do Grid?
À medida que o calor do verão se intensifica, também aumenta a pressão nos bastidores da MotoGP. Com equipas e pilotos a entrarem numa fase crítica das negociações contratuais para a temporada de 2026, a pergunta que todos fazem volta a pairar no ar: que piloto ficará sem lugar no próximo ano?
Todos os anos, este período transforma-se numa verdadeira montanha-russa emocional para os pilotos cujos desempenhos ficaram aquém das expectativas. Enquanto alguns garantem a permanência com resultados consistentes, outros caminham numa corda bamba — analisados ao detalhe por equipas, patrocinadores e adeptos. O atual plantel da MotoGP não foge à regra e, com uma nova geração de talentos do Moto2 à espreita e várias alterações nas equipas já em curso, a luta pela sobrevivência no grid de 2026 está mais acesa do que nunca.
Vagas Confirmadas — e Áreas Cinzentas
Neste momento, três pilotos estabelecidos — Luca Marini, Franco Morbidelli e Jack Miller — estão oficialmente em final de contrato no fim da temporada de 2025. No entanto, a realidade na MotoGP raramente é tão simples. Muitos contratos incluem cláusulas de desempenho e opções de rescisão antecipada, o que dá às equipas margem para alterações antes do término natural do vínculo. Isso significa que mesmo pilotos com contrato válido até 2026 não estão imunes à substituição.
A chegada da sensação turca Toprak Razgatlioglu, que se juntará à Pramac Yamaha em 2026, já alterou significativamente o cenário. A sua entrada ocupa uma das duas vagas na estrutura satélite da Yamaha, restando apenas uma posição disponível. Isso coloca de imediato os dois atuais pilotos da Pramac, Jack Miller e Miguel Oliveira, sob forte escrutínio.
Ao mesmo tempo, o renascimento de talentos do Moto2 — como Diogo Moreira, Manuel Gonzalez e outros — acrescenta ainda mais tensão. Com reputações em crescimento e desempenhos sólidos, estes jovens surgem como alternativas viáveis e, em alguns casos, mais entusiasmantes do que os veteranos que têm enfrentado dificuldades.
Neste contexto, o painel de especialistas da Crash.net analisou quem está mais próximo da porta de saída antes do arranque da temporada de 2026. O veredicto aponta para dois nomes em particular, cujas posições no grid estão seriamente comprometidas: Miguel Oliveira e Somkiat Chantra.
Miguel Oliveira: Uma Carreira em Encruzilhada
De Vencedor a Desilusão
Outrora celebrado como um dos pilotos mais inteligentes e tecnicamente dotados da grelha, Miguel Oliveira viu a sua trajetória estagnar de forma alarmante nas últimas duas temporadas. Vencedor de cinco corridas na categoria rainha durante o período com a KTM, o piloto português foi apontado como um futuro candidato ao título. No entanto, a mudança para a Aprilia em 2023 não produziu os frutos esperados, e a transição para a Yamaha em 2025 também tem ficado aquém das expectativas.
Lewis Duncan, da Crash.net, argumenta que a posição de Oliveira no grid está cada vez mais insustentável. Embora o seu passado seja inegavelmente vitorioso, o presente levanta mais dúvidas do que certezas. Aos 30 anos, o piloto luso assinou um contrato de dois anos com a Pramac Yamaha — um compromisso que surpreendeu muitos, dada a sua histórica propensão a lesões e falta de consistência. Em contraste, o seu companheiro de equipa, Jack Miller, só recebeu um acordo de um ano, evidenciando que, desde o início, a aposta em Oliveira já era arriscada.
Duncan salienta que, mesmo regressando à plena forma física durante grande parte da temporada de 2025, Oliveira ainda não conseguiu terminar no top 10 em nenhuma corrida. Com apenas seis pontos somados até agora, encontra-se perigosamente próximo do fim da tabela de classificações. Numa equipa que, com Razgatlioglu, ambiciona contribuir decisivamente para o desenvolvimento técnico da Yamaha, Oliveira não tem provado ser o elemento fiável e eficaz de que a estrutura necessita.
“Para um piloto com vitórias na classe principal, Oliveira não tem justificado a sua permanência no paddock em 2026”, escreve Duncan. A mensagem é clara: se a Yamaha quer evoluir, Oliveira pode já não fazer parte desse plano.
Peter McLaren: Oliveira e Chantra no Fundo da Tabela
Peter McLaren partilha das mesmas preocupações. Olhando para a atual classificação do campeonato, Oliveira e Somkiat Chantra ocupam os dois últimos lugares entre os pilotos a tempo inteiro. Enquanto Oliveira soma seis pontos, Chantra tem apenas um. McLaren reconhece fatores atenuantes — as lesões de Oliveira e a estreia de Chantra — mas sublinha que, num desporto baseado em resultados, as desculpas têm prazo de validade.
Destaca ainda que, com Razgatlioglu já garantido para 2026 e uma nova geração pronta a subir ao palco, o tempo está a esgotar-se para quem não entrega resultados. McLaren sugere que, apesar das dificuldades, os fracos resultados de Oliveira, tendo ele a experiência que tem, são mais problemáticos do que os de Chantra.
Alex Whitworth: Num Plantel Competitivo, Oliveira Apaga-se
Alex Whitworth adota uma perspetiva mais abrangente, analisando a competitividade geral da grelha em 2025. Destaca que a maioria dos pilotos, mesmo os que lutam pela consistência, já teve momentos de destaque. Por exemplo, Enea Bastianini, apesar de dificuldades com o pacote da KTM, ainda conseguiu um pódio em Brno — evidenciando resiliência e talento.
Para Whitworth, o que realmente prejudica Oliveira é o contraste crescente com os jovens talentos do Moto2. Pilotos como Diogo Moreira e Manuel Gonzalez são mais jovens, mais ambiciosos e talvez mais merecedores de uma oportunidade. Com base na idade e na falta de desempenho atual, Oliveira torna-se cada vez mais difícil de justificar para 2026.
Somkiat Chantra: Estreia Simbólica, Mas Sem Resultados
Um Marco Histórico com Impacto Limitado
Se Miguel Oliveira está debaixo de fogo por não corresponder ao passado, Somkiat Chantra enfrenta outro tipo de pressão. A sua entrada na MotoGP foi histórica, sendo o primeiro piloto tailandês a competir na classe rainha. Com o apoio da Idemitsu, gigante petrolífera japonesa empenhada na promoção de talentos asiáticos, a estreia de Chantra teve grande simbolismo.
Contudo, como salienta Derry Munikartono, o simbolismo não ganha corridas. Apesar do marco histórico, a época de estreia de Chantra tem sido dececionante. Aos comandos da difícil Honda RC213V, o piloto tem tido dificuldades em adaptar-se às exigências do MotoGP. Com apenas um ponto conquistado, fruto de um 15.º lugar em Assen, o seu rendimento ficou muito aquém do desejável.
Ainda mais preocupante é o facto de que o apoio da Idemitsu à segunda moto da LCR estará a ser revisto. Fontes no paddock indicam que a Honda poderá estar a ponderar contratar Diogo Moreira, o talentoso brasileiro atualmente no Moto2, como alternativa mais competitiva. O próprio chefe da equipa LCR, Lucio Cecchinello, confirmou que as discussões sobre a formação de 2026 decorrerão durante as 8 Horas de Suzuka, deixando claro que o lugar de Chantra está longe de estar assegurado.
A menos que o piloto tailandês protagonize uma recuperação notável na segunda metade da época, o seu tempo na MotoGP pode resumir-se a uma única temporada, conclui Munikartono.
Jordan Moreland: Fim de Linha para Oliveira
Na sua análise, Jordan Moreland regressa ao caso de Miguel Oliveira, manifestando desilusão com o declínio do piloto nos últimos anos. Apesar de já ter sido visto como um corredor estratégico e eficaz em condições difíceis, essa reputação tem-se esbatido com o passar das épocas.
Moreland reconhece os contratempos — lesões, quedas alheias e dificuldades de adaptação às motos — mas sublinha que os atletas de elite são julgados pelos resultados. Com apenas seis pontos e nenhum sinal de recuperação, Oliveira é atualmente 25.º classificado no campeonato, uma posição que está longe de ser aceitável para um piloto com vitórias no currículo.
“Este não é o rendimento de um piloto digno de permanecer na MotoGP, especialmente num pelotão tão competitivo”, conclui Moreland. O tom é inequívoco: o tempo de Oliveira na elite pode estar a chegar ao fim.
Veredito Final: Dois Pilotos em Risco
À medida que a temporada de 2025 se aproxima das fases decisivas, o futuro de Miguel Oliveira e Somkiat Chantra parece cada vez mais incerto. Ambos, embora por razões distintas, não conseguiram convencer que merecem permanecer em 2026.
No caso de Oliveira, a questão prende-se com a incapacidade de replicar o sucesso do passado. Lesões, falta de resultados e pouco contributo para o desenvolvimento da moto fazem dele um elo fraco no projeto Pramac-Yamaha — ainda mais agora com Razgatlioglu a reforçar a equipa. Com jovens talentos sedentos de uma oportunidade, a carreira do piloto português pode estar prestes a entrar numa nova encruzilhada.
Já Chantra enfrenta a curva de aprendizagem de um rookie, sem resultados que lhe garantam margem de manobra. O apoio da Idemitsu ainda lhe dá algum respaldo, mas até esse pode evaporar-se se o desempenho continuar abaixo do esperado e a Honda optar por apostar na competitividade com sangue novo.
Num desporto onde cada lugar se conquista e cada volta conta, o tempo para provar valor é curto. Para Oliveira e Chantra, o relógio está a contar — e, a menos que o panorama mude drasticamente, podem estar a assistir à temporada de 2026 fora das pistas.