Evolução Ousada da Prima Pramac Yamaha: Gino Borsoi Revela a Transição Estratégica da Equipa, a Dinâmica Oliveira-Miller e o Plano de Longo Prazo no MotoGP
À medida que a temporada de MotoGP de 2025 avança, a Prima Pramac Yamaha destaca-se como uma das histórias mais cativantes do paddock — fruto de uma audaciosa ruptura com a sua longa parceria com a Ducati e de uma nova e ousada aliança com a Yamaha. No comando desta transformação ambiciosa está o Diretor de Equipa, Gino Borsoi, que, numa conversa franca e profunda, ofereceu uma rara visão sobre a adaptação em curso, as complexidades culturais do novo ambiente e a dinâmica única criada entre os seus dois pilotos de estilos bastante distintos: Miguel Oliveira e Jack Miller.
Esta temporada marca um ponto de viragem não apenas na direção técnica da equipa, mas na sua própria identidade. O que começou como uma aposta arriscada está gradualmente a transformar-se numa história de reinvenção calculada — uma jogada que reflete tanto visão estratégica como a coragem de sair da zona de conforto.
Abraçando a Mudança: Da Familiaridade com a Ducati à Filosofia Yamaha
Durante anos, a Pramac operou como a equipa satélite mais importante da Ducati, beneficiando de uma forte parceria técnica e funcionando frequentemente como terreno de testes para motos com especificações de fábrica. Contudo, num movimento dramático que agitou os bastidores do MotoGP, a Pramac decidiu abandonar o mundo familiar de Borgo Panigale e embarcar numa nova jornada ao lado da Yamaha.
Gino Borsoi descreve esta mudança não apenas como uma troca de motos, mas como uma redefinição completa da forma como a equipa encara as corridas — desde os estilos de comunicação até às filosofias de resolução de problemas.
“Mudar da Ducati para a Yamaha não é apenas adaptar-se a uma moto diferente,” explica Borsoi. “É integrar-se numa nova maneira de trabalhar. A Yamaha tem uma metodologia distinta, moldada pela precisão e pelo pensamento a longo prazo. Estamos a aprender a abraçar isso e a fundi-lo com a nossa própria paixão e adaptabilidade.”
Este processo, segundo ele, ainda está em curso — e não está isento de dificuldades. Navegar entre uma cultura de equipa latino-europeia e uma estrutura corporativa tradicionalmente japonesa tem apresentado desafios reais. Mas Borsoi vê nesses obstáculos oportunidades essenciais de crescimento, em vez de entraves.
“Há momentos de desalinhamento, claro,” admite. “Mas o segredo é ter paciência. Construir sinergia entre diferentes mentalidades exige tempo e respeito mútuo.”
Oliveira e Miller: Um Contraste Deliberado para um Equilíbrio Competitivo
A formação de pilotos da nova Pramac Yamaha acrescenta ainda mais interesse ao projeto. Com Miguel Oliveira e Jack Miller, a equipa juntou dois pilotos com estilos, temperamentos e abordagens ao desporto completamente diferentes — mas, segundo Borsoi, isso foi uma escolha intencional.
Oliveira, o experiente piloto português, é metódico, introspectivo e preciso. De acordo com Borsoi, ele já se tornou numa peça central do desenvolvimento técnico da equipa. A sua grande mais-valia está na consistência do feedback, na calma sob pressão e na capacidade de traduzir sensações complexas em dados claros — qualidades inestimáveis nesta fase inicial de adaptação técnica.
“Miguel tornou-se o nosso ponto de referência,” afirma Borsoi. “Ele traz ordem ao caos. Cada volta que completa fornece-nos dados estruturados e acionáveis. É um piloto que se comunica de forma que os engenheiros compreendem e podem trabalhar imediatamente.”
Mesmo após a queda sofrida na Argentina no início da temporada — um momento que poderia facilmente ter abalado o ritmo de um piloto — Oliveira continuou o seu trabalho sem hesitações, simbolizando a estabilidade e liderança que a equipa tanto necessita nesta fase.
Por outro lado, Jack Miller traz uma energia mais selvagem ao box. Conhecido pelo seu estilo de pilotagem agressivo e personalidade jovial e espontânea, o australiano injeta um elemento de imprevisibilidade e instinto cru. Embora a sua abordagem difira bastante da de Oliveira, Borsoi acredita que Miller desempenha um papel vital ao forçar a equipa a explorar soluções não convencionais e ao manter o ânimo elevado durante os fins de semana mais difíceis.
“Jack é o nosso trunfo,” diz Borsoi. “Ele traz o caos — mas do tipo certo. Obriga-nos a pensar fora da caixa, a ultrapassar limites que, de outra forma, não testaríamos. E é excelente a aliviar a tensão, o que é crucial quando estamos a navegar em território desconhecido.”
Juntos, Oliveira e Miller representam uma aposta calculada — que procura equilibrar precisão com agressividade, estrutura com instinto. As suas diferenças complementares oferecem à equipa uma gama mais ampla de dados e perspetivas, tornando-a mais resiliente e adaptável às diferentes pistas e condições.
Unindo Culturas: Paixão Latino-Europeia com Disciplina Japonesa
Uma das maiores adaptações para a equipa tem sido aprender a colaborar dentro da estrutura altamente disciplinada e metódica da Yamaha. Borsoi é transparente quanto aos atritos culturais que por vezes surgem entre o estilo de trabalho expressivo e acelerado da Pramac e a abordagem mais contida e ponderada da Yamaha.
“Não se trata apenas de como corremos — mas de como pensamos,” observa. “O nosso lado da garagem tende a ser mais emocional, reativo e espontâneo. A Yamaha, por outro lado, encara tudo com calma e deliberação. Nenhuma abordagem é melhor, mas exigem formas de comunicação diferentes.”
Apesar destes desafios, Borsoi não poupa elogios ao compromisso firme e ao apoio técnico da Yamaha. Desde o início, a marca japonesa comprometeu-se a oferecer à Pramac um nível de apoio de fábrica sem precedentes — e, segundo Borsoi, já cumpriram essa promessa.
“O acesso que nos foi dado — em termos de equipamento e know-how — tem sido extraordinário,” afirma. “Não estamos apenas a correr com motos Yamaha; estamos integrados no circuito técnico deles. Isso permitiu-nos identificar problemas mais rapidamente e encontrar soluções que sozinhos não teríamos encontrado.”
Essa integração apertada permitiu à equipa avançar rapidamente nas fases iniciais de adaptação e começar a extrair ganhos de desempenho reais do chassis M1.
Uma Visão de Longo Prazo com os Olhos em 2027
Embora exista um otimismo crescente quanto ao que a equipa pode alcançar em 2025, tanto Gino como o Diretor Desportivo Fausto Borsoi são claros ao afirmar que este projeto está ancorado numa perspetiva de longo prazo. Reconhecem que tornar-se uma força competitiva verdadeira exigirá compromisso contínuo com a aprendizagem, melhoria de processos e adaptação aos desafios futuros — especialmente com o novo regulamento técnico do MotoGP previsto para entrar em vigor em 2027.
Fausto Borsoi reforça a importância da paciência e da visão estratégica.
“Neste desporto, o sucesso não surge de um dia para o outro,” explica. “É preciso experimentar constantemente, analisar e evoluir. A verdadeira recompensa chegará dentro de alguns anos, quando os novos regulamentos redefinirem o equilíbrio competitivo. Queremos estar prontos para esse momento.”
Assim, a temporada atual é tanto sobre construir uma base sólida quanto sobre disputar pódios. Cada fim de semana de corrida serve como competição e também como sessão de testes — uma oportunidade para aprofundar a colaboração com a Yamaha e refinar o modelo operacional que definirá o futuro da equipa.
Uma Temporada Definidora Sob os Holofotes
À medida que o circo do MotoGP viaja de circuito em circuito, o projeto Prima Pramac Yamaha está sob intenso escrutínio por parte de fãs, analistas e equipas rivais. Existe uma curiosidade generalizada: poderá este ousado experimento ter sucesso? Poderá uma equipa outrora sinónima da Ducati reescrever a sua história sob o estandarte da Yamaha?
Os primeiros sinais são animadores. A equipa demonstra uma maturidade na abordagem, e ambos os pilotos apresentam desempenhos que apontam para um potencial ainda por explorar. Embora ainda não estejam a disputar pódios todas as semanas, a trajetória indica que isso poderá ser apenas uma questão de tempo.
“Esta temporada não serve para provar que fizemos bem em mudar,” conclui Gino Borsoi. “Serve para provar que temos a visão, a equipa e a coragem de construir algo novo do zero — e torná-lo competitivo ao mais alto nível.”
Com a consistência de Oliveira a impulsionar o progresso e a ousadia de Miller a manter viva a chama, a Prima Pramac Yamaha está a escrever um novo capítulo — um que envolve risco, aprendizagem e promessas. E à medida que o MotoGP caminha para a sua próxima fase de evolução, a Pramac posiciona-se não apenas para participar, mas para liderar.