Polícia Detém Três Membros da Juve Leo Após Ataque Violento a Carro com Adeptos do FC Porto
As autoridades portuguesas confirmaram a detenção de três membros do grupo ultra do Sporting Clube de Portugal, a Juve Leo, na sequência de um ataque violento a uma viatura que transportava adeptos do FC Porto. O incidente, ocorrido nos arredores de Lisboa, reacendeu as preocupações sobre o problema persistente da violência associada ao futebol no país e sobre a influência contínua dos grupos ultras.
O Incidente
O confronto terá acontecido na noite de domingo, após o mais recente jogo do campeonato disputado pelo FC Porto. Segundo fontes oficiais, um carro que transportava adeptos portistas foi alvo de indivíduos ligados à Juve Leo, a mais conhecida claque organizada do Sporting. Pedras e outros objetos foram arremessados contra o veículo, partindo vidros e causando danos visíveis.
Apesar de os adeptos do Porto no interior da viatura terem conseguido escapar sem ferimentos graves, testemunhas descreveram o episódio como profundamente assustador. “Aconteceu tudo muito depressa. Cercaram o carro, insultaram-nos e começaram a atirar coisas. Só tentámos fugir o mais rápido possível”, relatou um dos adeptos, que pediu anonimato por razões de segurança.
A polícia foi chamada ao local e iniciou de imediato uma investigação. Horas depois, três indivíduos identificados como membros ativos da Juve Leo foram detidos. As autoridades confirmaram que os suspeitos enfrentam acusações de danos agravados, desordem pública e atentado contra a segurança.
Os detidos deverão comparecer perante um juiz ainda esta semana, que decidirá se serão aplicadas medidas de coação como prisão preventiva, restrições de deslocação ou proibição de entrada em recintos desportivos enquanto o processo decorrer.
Polícia Condena a Violência
Em comunicado oficial, as forças de segurança condenaram o incidente, classificando-o como “um ato deliberado e imprudente que colocou vidas em perigo”. As autoridades sublinharam que a polícia portuguesa tem procurado reduzir os episódios de violência ligados às rivalidades do futebol, mas admitiram que os grupos ultras continuam a ser um desafio sério.
“Os atos testemunhados no domingo são inaceitáveis numa sociedade democrática e serão tratados com a máxima seriedade”, lê-se na nota. “Os responsáveis por este comportamento serão responsabilizados até às últimas consequências da lei. O futebol deve ser um espaço de paixão e celebração, não de medo e intimidação.”
As investigações prosseguem, com a polícia a analisar imagens de videovigilância e a ouvir testemunhas para identificar outros possíveis suspeitos. Novas detenções não estão excluídas.
Reação do FC Porto
O FC Porto emitiu um breve mas firme comunicado a condenar o ataque e a manifestar solidariedade com os seus adeptos. “Nenhuma rivalidade, por mais intensa que seja, pode justificar violência desta natureza. Os nossos adeptos foram colocados em sério risco, e isso é inaceitável. Apelamos às autoridades competentes para que tomem todas as medidas necessárias para garantir a segurança e evitar que tais incidentes se repitam”, afirmou o clube.
Os dragões deixaram ainda no ar a possibilidade de ações futuras, sugerindo que irão exigir garantias adicionais das autoridades e dos organizadores da Liga para uma maior proteção dos adeptos em deslocações.
Sporting CP Sob Nova Pressão
Embora o Sporting CP não tenha sido diretamente implicado no episódio, o caso volta a colocar os holofotes sobre a Juve Leo, a mais antiga e notória das claques do clube.
Fundada em 1976, a Juve Leo tem uma história marcada por contrastes. Por um lado, é conhecida pelo apoio vibrante, pelas coreografias coloridas e pela fidelidade em acompanhar o Sporting por toda a Europa. Por outro, tem estado envolvida em episódios de violência, comportamentos criminais e polémicas que têm manchado a imagem do clube.
O caso mais infame ocorreu em 2018, com o ataque à Academia de Alcochete, quando dezenas de adeptos encapuzados invadiram as instalações do Sporting e agrediram jogadores e membros da equipa técnica após uma série de maus resultados. Esse episódio deixou uma marca profunda no futebol português, levantando o debate sobre o poder das claques e a responsabilidade dos clubes no seu controlo.
Apesar de o Sporting ter cortado oficialmente relações com a Juve Leo após Alcochete, o grupo continua a operar de forma independente. As autoridades têm encontrado dificuldades em reduzir a sua influência, sendo os seus membros ainda visíveis em jogos e no quotidiano do clube.
Críticos defendem que o Sporting e outros clubes portugueses não têm feito o suficiente para romper definitivamente com as claques violentas. “Não basta emitir comunicados. Os clubes têm de tomar medidas concretas para erradicar a violência, mesmo que isso implique perder parte do apoio mais ruidoso nas bancadas”, afirmou um especialista em segurança desportiva ao jornal Record.
O Problema Mais Alargado da Violência no Futebol
O ataque expõe, mais uma vez, as tensões latentes entre os três grandes do futebol português — Sporting CP, Benfica e FC Porto — cujas rivalidades extravasam os relvados. Todos os clubes têm claques com reputações de intimidação e, em alguns casos, de comportamentos violentos.
Ao longo dos anos, confrontos entre grupos rivais ocorreram em estádios, transportes públicos e ruas das cidades. Os registos policiais demonstram que, apesar de menos frequentes do que nas décadas de 1990 e 2000, os incidentes de violência ligados ao futebol continuam a surgir com regularidade preocupante.
Nos últimos tempos, verificaram-se confrontos mais intensos, sobretudo em jogos decisivos ou em corridas pelo título. As autoridades receiam que, sem uma aplicação mais rigorosa das leis e proibições, a violência possa escalar ainda mais.
Resposta do Governo e da Liga
Na sequência dos acontecimentos de domingo, representantes do Ministério da Administração Interna reiteraram o compromisso de combater o hooliganismo no futebol. O Governo estará a ponderar um reforço do quadro legal para punir reincidentes, incluindo proibições de acesso aos estádios por períodos mais longos e restrições mais apertadas às associações de adeptos organizados.
Também a Liga Portugal emitiu um comunicado a condenar o incidente. “A violência não tem lugar no futebol. A Liga continuará a trabalhar em conjunto com os clubes, a Federação Portuguesa de Futebol e as autoridades para criar ambientes mais seguros para todos os adeptos”, afirmou a entidade.
Ainda assim, associações de adeptos sustentam que palavras não chegam. “Ouvimos condenações sempre que algo acontece, mas o que muda? Enquanto não houver consequências reais para os grupos envolvidos e garantias de segurança mais fortes para quem viaja, os adeptos continuarão em risco”, disse João Silva, porta-voz de uma associação nacional de adeptos.
Perspetiva Europeia
Portugal não é o único país a enfrentar problemas com violência no futebol. Por toda a Europa, grupos ultras têm estado associados tanto a atmosferas espetaculares nos estádios como a episódios preocupantes de agressão. Países como Itália, Grécia e Sérvia têm lidado com desafios semelhantes, com governos a aplicar legislação mais dura e a aumentar a vigilância para conter o hooliganismo.
A UEFA, entidade máxima do futebol europeu, tem repetidamente apelado às federações nacionais para priorizarem a segurança dos adeptos e aplicarem sanções severas a clubes que não controlem as suas claques. Embora o ataque de domingo não tenha ocorrido no contexto de uma competição europeia, analistas alertam que a repetição destes episódios pode prejudicar a imagem de Portugal perante as instâncias internacionais.
Olhando em Frente
Com os três membros da Juve Leo detidos a aguardar as respetivas audiências judiciais, o futebol português enfrenta renovadas pressões para enfrentar a cultura de violência enraizada em certos grupos de adeptos. Para muitos, o futebol continua a ser uma fonte de alegria e comunidade — mas para outros, torna-se demasiadas vezes palco de intimidação e agressão.
O desafio passa agora por encontrar um equilíbrio: preservar a paixão vibrante que torna o futebol português único, ao mesmo tempo que se eliminam os elementos extremistas que ameaçam a segurança pública. Clubes, autoridades e Governo terão de reforçar a cooperação para garantir que episódios como o de domingo não se tornem recorrentes.
Para os adeptos do FC Porto que viveram o ataque, a experiência não será facilmente esquecida. Como disse um deles à comunicação social: “Só queríamos ir para casa depois do jogo. O futebol devia unir as pessoas, não pôr vidas em risco.”